A nova fronteira dos aplicativos
O modelo funciona da seguinte maneira: as startups montam pequenos centros de distribuição. Essas companhias apostam na proximidade para realizar entregas na maior velocidade possível. E esse modelo tem atraído empreendedores e investimentos milionários.
Um dos casos mais conhecidos é o da brasileira Daki. Fundada em janeiro deste ano e com uma operação que só contemplava 20 bairros da capital paulista, a startup conseguiu captar US$ 170 milhões em seu primeiro aporte. De lá para cá, a Daki expandiu a sua atuação. Atualmente, a companhia conta com 60 “dark stores”, mais de 650 empregados – nem possui uma sede -, além de 1 mil entregadores cadastrados. A empresa já expandiu a atuação para cidades da região metropolitana de São Paulo, além do Rio de Janeiro, e está prestes a iniciar sua operação em Belo Horizonte.
O resultado é que, em dez meses de operação, a empresa se tornou o mais novo “unicórnio” (companhia com valor de mercado estimado em mais de US$ 1 bilhão) do País. Isso aconteceu no início de dezembro, quando a startup recebeu um aporte de US$ 260 milhões de grandes fundos como Tiger Global, Kaszek e Monashees.
“O aporte é direcionado para expansão física, melhorar a experiência em nosso aplicativo e atrair talentos para dentro de casa”, afirmou o presidente e fundador da Daki, Rafael Vasto.
NOVIDADES. Entre os diferenciais que a empresa promete aos clientes, e que fizeram os investidores apostar fortemente na Daki, estão o frete grátis, além da entrega em menos de 15 minutos – e, de acordo com Vasto, preços competitivos com os vistos nas grandes redes varejistas. Isso acontece, segundo ele, porque a empresa fecha os contratos diretamente com as grandes indústrias, conseguindo maiores descontos e repassando para os consumidores.
Para completar, por ter controle total do estoque, não ocorre o problema de o cliente comprar um produto e ele ser substituído por outro. “Tivemos um crescimento de 930% no último trimestre”, diz Vasto. “Mas isso depende um pouco de novos aportes, e se trata de um mercado que está andando rápido, e não queremos ficar para trás.”
ESTRANGEIRAS POR AQUI. É certo que o segmento tem um crescimento acelerado. Somente nos últimos meses, duas empresas de outros países latino-americanos estrearam no mercado brasileiro. A colombiana Merqueo, com um modelo de negócio similar ao da Daki, chegou ao País em julho com US$ 25 milhões para gastar e com planos de abrir oito espaços para realizar entregas. O maior deles é um de 4 mil m² na Vila Leopoldina, bairro da zona oeste de São Paulo. Um mês depois da estreia no mercado brasileiro, a companhia anunciou o aporte de US$ 50 milhões para acelerar a expansão no País e na América Latina.
Para isso, ela terá de competir com uma rival latina. A colombiana Justo quer ter de dez a 12 armazéns espalhados pela região metropolitana de São Paulo e quer se diferenciar pela maior oferta de frutas, legumes e verduras, o que exige uma logística ainda mais delicada por causa da baixa vida útil desse tipo de alimentos.
De acordo com André Braga, vice-presidente da Justo, essa meta deve ser atingida em 12 meses. “Isso representa a metade do tempo que levamos para alcançar o mesmo tamanho no México”, diz Braga. Hoje, a empresa já conta com 1,3 mil funcionários na América Latina.
GRANDES DE OLHO. Não existem levantamentos que mostrem o crescimento desse mercado, mas se trata de um segmento que também está chamando a atenção de grandes do setor. O Hortifruti Natural da Terra, comprado em agosto pela Americanas por R$ 2,1 bilhões, já possui mais de 70 lojas em quatro Estados e está iniciando a ampliação de suas “dark stores” para acelerar as vendas digitais da rede, que representam 16% do faturamento de R$ 2 bilhões por ano.
Da mesma forma que a Justo, aposta na sua oferta de produtos frescos. Por agora, a companhia conta com duas “dark stores”, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro, e pretende ampliar a operação.
“Estamos trabalhando a ‘dark store’ como uma iniciativa de inovação e com a lógica de capturar clientes em novas geografias”, comenta Fernando Visser, responsável pela área de inovação da rede.
LÍDER. A Rappi, porém, é a empresa que está mais na dianteira da corrida. Apesar de ter começado no Brasil como um aplicativo especializado nas entregas de produtos de terceiros, a companhia já conta com 117 “dark stores” no Brasil e outras 172 espalhadas por cinco países da América Latina. O principal diferencial da companhia é o de entregas em menos de dez minutos – segundo a Rappi, a média do tempo é de 8 minutos e 20 segundos. Para Tijana Jankovic, presidente da subsidiária brasileira da Rappi, o modelo está crescendo cada vez mais e tem o potencial de, em breve, se tornar o principal negócio dentro da companhia.
Mas, com tantos supermercados dentro da plataforma, isso não vira uma concorrência com os parceiros? Na visão de Tijana, não. “Estamos com o foco de criar o hábito do supermercado por aplicativo. Nós não queremos competir nas compras grandes, que continuarão com os nossos parceiros, mas fazer com que o cliente tenha mais recorrência e passe a utilizar mais a ferramenta”, diz a executiva.
Este pode ser um caminho que outros aplicativos podem entrar no futuro, de acordo com especialistas. Afinal, trata-se de uma grande ferramenta de fidelização. O iFood, que domina mais de 70% do mercado de restaurantes, entrou mais tarde na competição por supermercados, mas já coloca o segmento como uma de suas principais rotas de crescimento para o futuro.
A companhia, que também é um unicórnio brasileiro, está consolidando o modelo de entregas expresso e conta hoje com 5 mil parceiros em 246 cidades. Segundo a companhia, o investimento está ocorrendo por meio de parcerias com outras companhias. O modelo é similar ao da Ambev com o Zé Delivery, em que a fabricante de bebidas utiliza a base de seus distribuidores para realizar vendas diretas para os consumidores finais.
FINANÇAS. Para Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail, a disputa no setor deve continuar quente nos próximos anos, mas as empresas e os investidores precisam prestar atenção se o negócio se mantém financeiramente viável.
Segundo ele, investimentos milionários em busca do crescimento podem mascarar ineficiências na condução do negócio, o que pode acarretar problemas insolúveis à frente. “No fundo, quem vai ganhar o jogo é quem tiver a recorrência e a capacidade de escalar o modelo de forma sustentável.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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