Adiamento da Paralimpíada fez Yohansson abandonar as pistas e se tornar dirigente
No momento, está com a delegação brasileira no Japão e prestes a participar de sua quarta Paralimpíada. Yo, como é chamado por todos da delegação, nasceu sem as duas mãos e competiu em alto nível até 2019, quando foi bronze no Mundial de Dubai nos 100m classe T46 (amputação membros superiores). A medalha, a 11ª dele em mundiais, garantiu índice para Tóquio e por isso ele brinca que, se faltar um atleta, ele pode calçar a sapatilha e ir para a pista.
O bronze também é guardado com carinho por pelo menos outros dois motivos: foi a última conquista como atleta e ainda mostrou ao veterano das pistas que havia deixado um legado. A prova dos 100m foi dominada com pódio triplo brasileiro. Petrúcio Ferreira, atual recordista mundial, ficou com o ouro e Washington Junior, com a prata.
Em entrevista ao Estadão, o jovem dirigente de 33 anos falou sobre a transformação na carreira, a responsabilidade que carrega por ser ex-atleta, da falta de conhecimento da população brasileira sobre a modalidade e que 100% dos atletas paralímpicos viajaram a Tóquio depois de tomar as duas doses da vacina. E para quem não imagina como pode ser a rotina de uma pessoa que nasceu sem as duas mãos, ele conta: “Na minha infância, jogava bolinha de gude, jogava peão, fazia de tudo. Hoje eu dirijo, tenho uma vida normal. Já fui dirigindo duas vezes de São Paulo a Maceió, minha cidade natal. Foram 2.400km no volante.”
O adiamento dos Jogos Paralímpicos foi decisivo para você se tornar dirigente?
O adiamento dos Jogos foi também um dos fatores que me fez parar. Em 2016 já me preocupava muito em saber o momento correto da minha aposentadoria. Sonhava muito ainda em competir os Jogos de 2020 antes de acontecer a pandemia. Só que o adiamento para 2021 ficaria complicado prolongar o ciclo. Decidi encerrar a carreira para me tornar dirigente e dar continuidade a todo esse trabalho que vem sendo feito no Comitê Paralímpico Brasileiro. Queria contribuir mais com esse esporte que me deu tantas oportunidades. Não seria justo simplesmente encerrar a carreira e não fazer nada pelo esporte paralímpico do Brasil.
Como é estar agora estar como dirigente em um evento paralímpico?
A sensação é de uma responsabilidade muito grande. Como já fui a três Paralimpíadas, sei das necessidades de todos os atletas às vésperas de uma competição tão importante. A cobrança dos atletas é maior comigo por saber que eu já estive naquela posição. Agora tento fazer com que esses atletas tenham a melhor estrutura, a melhor preparação para alcançar o resultado com a medalha no peito.
Qual sua expectativa para os Jogos? Acha que dá para superar o desempenho do Rio, quando o Brasil terminou em oitavo lugar no quadro de medalhas?
Espero que todos os atletas façam uma excelente competição. Foi um ciclo prolongado, de cinco anos de treinamento. Tivemos como legado dos Jogos do Rio o Centro de Treinamento Paralímpico em São Paulo. Temos ganhado visibilidade ano após ano… Por isso, acredito sim que dá para superar a quantidade de medalhas conquistada no Rio (foram 72 medalhas em 2016 – 14 ouros, 29 pratas e 29 bronzes).
Há um cuidado especial com atletas considerados grupos de risco da covid?
Todos os cuidados aqui no Japão, não só com grupo de risco, mas com toda delegação. Todos os atletas já tomaram as duas doses da vacina no Brasil. Estamos adotando muitos critérios para que nenhum atleta seja contaminado durante os Jogos (o CPB confirmou que todos os atletas da delegação viajaram a Tóquio após tomar as duas doses da vacina).
Como tem sido a rotina no Japão?
Tento acompanhar todas as modalidades que estão treinando para os Jogos. Alguns estavam treinando na Europa, como o hispismo. O ciclismo fez uma preparação final no Rio… Estamos colocando em prática tudo o que foi planejado. Os atletas gostaram da programação e agora é só esperar os resultados.
Sempre que vai acontecer um evento paralímpico a população não sabe direito quais termos usar, como falar sobre uma deficiência. O que você tem a dizer para essas pessoas?
O esporte paralímpico é muito novo no mundo inteiro. No Brasil apenas em 1995 foi criado o CPB. Então, muitas pessoas ainda têm dificuldade em saber lidar com todo esse universo. Acredito que ano após ano a população se sentirá mais à vontade para falar do esporte para pessoas com deficiência. Não tem muito segredo. É só chamar de atleta. “Eu vi o atleta paralímpico da natação”, por exemplo. Não tem palavra mágica.
Queria que falasse um pouco sobre sua vida fora das pistas, da sua rotina…
Sempre tive uma vida como a de qualquer outro atleta. Treinei todos os dias. Na escola também não tive tratamento diferenciado. Na minha infância, jogava bolinha de gude, jogava peão. Hoje eu dirijo. Já fui dirigindo duas vezes de São Paulo a Maceió. Foram 2.400km no volante. Minha vida é como a de qualquer outra pessoa sem deficiência.
Para terminar, como espera ver o paradesporto ao término dessa sua primeira gestão como vice-presidente?
Quero ver um CPB cada vez mais forte. Um Comitê Paralímpico que possa cada vez mais estruturar cada vez mais o esporte em todos os lugares do Brasil, capacitando professores, criando Centros de Referência. E que possa cada vez mais trazer medalhas e orgulhar cada vez mais a população brasileira.
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