AM demite médica que aplicou nebulização de hidroxicloroquina; paciente morreu
A mulher morta depois da nebulização havia acabado de dar à luz. A pasta informou que o tratamento não faz parte dos protocolos terapêuticos do Instituto Dona Lindu “nem de outra unidade da rede estadual de saúde, ainda que com o consentimento de pacientes ou de seus familiares”, diz nota da secretaria. O bebê passa bem.
Conforme a pasta, “o procedimento tratou-se de um ato médico, de livre iniciativa da profissional, que não faz mais parte do quadro da maternidade, onde atuou por cinco dias”. O comunicado diz também que “tão logo tomou conhecimento do ato, a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas determinou abertura de sindicância e o afastamento da profissional”.
A morte da paciente ocorreu em fevereiro, mas somente agora foi tornada pública. A secretaria diz que a médica passou a fazer parte da equipe em 3 de fevereiro “após contratação em regime temporário pela secretaria junto com outros 2,3 mil profissionais de saúde, via banco de recursos humanos disponibilizados ao Estado pelo Ministério da Saúde”.
A secretaria afirma que uma outra paciente sobreviveu à nebulização de hidroxicloroquina. “Conforme o instituto informou à secretaria, duas pacientes foram submetidas ao tratamento de nebulização de hidroxicloroquina. Ambas assinaram termo de consentimento, como relatado em prontuário. Uma das pacientes veio a óbito e a outra teve alta. Todas as informações sobre o atendimento estão registradas em prontuário”, afirma a pasta.
O texto diz ainda que a secretaria e o instituto não compactuam com a prática de “qualquer terapêutica experimental de teor relatado e não reconhecida e entendem que tais práticas não podem ser atribuídas à unidade de saúde, que tem como premissa o cumprimento da lei e dos procedimentos regulares, conforme os órgãos de saúde pública e os conselhos profissionais”.
A paciente de Manaus não é a primeira a morrer depois de passar por nebulização de hidroxicloroquina. Em março, três pacientes que passaram pelo procedimento morreram durante o tratamento em Camaquã, no Rio Grande do Sul. A nebulização foi aplicada no Hospital Nossa Senhora Aparecida, que, assim como a maternidade de Manaus, informou que o procedimento não faz parte de seus protocolos.
Selo de ‘tratamento precoce’
A ginecologista Michelle Chechter respondeu da seguinte maneira a pedido de contato feito pela reportagem: “nesse momento não estou conseguindo dar entrevistas. Futuramente entro em contato”. Em suas redes sociais a médica mantém um selo com os dizeres “covid-19. Eu apoio o tratamento precoce”. O chamado “tratamento precoce” é o uso de medicamentos sem comprovação de eficácia contra covid-19, como cloroquina e ivermectina.
Pelo menos uma publicação sobre eficácia da cloroquina da médica na rede social Facebook foi marcada como “informação falsa”. Michelle Chechter é ainda apoiadora do presidente da República, Jair Bolsonaro, que também defende o uso de medicamentos sem eficácia contra a doença. Em publicação recente a médica publicou fotos da visita de Bolsonaro a Chapecó, em Santa Catarina, município que teria supostamente conseguido reduzir internações por covid-19 com uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença.
A cidade, no entanto, à época da visita do presidente, no início do mês de abril, tinha 100% dos leitos de unidade de terapia intensiva ocupados, além de ter mais mortes por covid-19 por 100 mil habitantes que Santa Catarina e o Brasil. Segundo Bolsonaro, Chapecó tinha feito um “trabalho excepcional” na pandemia e deu liberdade a médicos para prescreverem o “tratamento precoce”.
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