Após vacina, eles mantêm cuidados e fazem planos
Apenas na rede pública estadual, o governo estima que 19,2 mil idosos moram em lares de longa permanência. Desde fevereiro, eles completaram a imunização contra o coronavírus, quando formaram o primeiro grupo prioritário para a vacinação no Brasil. Ainda assim, o regime de isolamento social severo continua, como forma de garantir a própria segurança desse público enquanto a pandemia avança pelo resto do País. Afastados do mundo lá fora, a rotina é de saudades e, garantem, de esperança.
“Foi o maior presente pra ela ter vindo aqui. E eu senti alívio, porque sei que ela está protegida”, conta Claudia Avancine, a filha mais velha de dona Gilda, que diz visitar a mãe regularmente aos domingos desde que ela foi morar na instituição três anos atrás. Desde fevereiro do ano passado, entretanto, os contatos passaram a ser através do vidro e, no lugar do carinho de um beijo ou abraço, ela fala com a mãe por um interfone instalado na parede.
Dona Gilda ainda não conheceu sua primeira bisneta, a pequena Cecília de um ano e quatro meses, que tenta tocar a bisavó pelo vidro enquanto a voz de Xuxa canta Parabéns pelo alto-falante do celular do pai. “Vai demorar muito até sermos vacinados, o risco não vale a pena”, explica Aloysio Regis, de 53 anos, irmão caçula de Claudia. Ela conta não ter certeza se a mãe entende o que está acontecendo por causa do Alzheimer avançado.
Por alguns momentos, parece que dona Gilda tenta levantar as mãos cobertas por luvas para acompanhar os aplausos, e os cuidadores comentam que ela também costuma se agitar quando transmitem algum show do Roberto Carlos no cinema.
A saudade dos netos também é a maior falta que Ana Maria Benavente, de 83 anos, sente da vida pré-pandemia. Isso e os passeios com o filho aos fins de semana, quando ainda podia sair do Cora Senior, no bairro do Ipiranga, e ir ao cinema. “Tem que ter paciência e esperar isso tudo passar. Mas a tristeza de não poder ver o filho e abraçar os netos dói muito”, conta, dizendo que se acostumou. “Acho que esse ano todo vai ser difícil.”
“Essa situação que a gente está vivendo tem um viés emocional muito grande. Antes, você podia visitar os residentes em qualquer horário. Com a pandemia, passamos a restringir essas visitas”, explica Jarbas Salto, diretor médico e de operações da Cora Residencial Senior.
Para contornar a solidão do isolamento, a rede tem oferecido rodas de conversa, transmitido sessões de teatro e auxiliado os moradores a fazerem videochamadas com os familiares, que já ultrapassaram a marca de oito mil desde o início da pandemia. “Eu tinha esperanças de que isso não fosse durar tanto tempo. Não poder acompanhar meu bisnetinho crescendo e se desenvolvendo… Eu sinto muita falta, mesmo. Esse afastamento é cruel”, conta Luci Elsa Santos, de 77 anos.
No próximo mês, ela vai completar quatro anos morando no Cora Ipiranga e diz que se acostumou a “conversar por vidro”, mas no início se sentia muito nervosa de não poder abraçar a família. Lucy se considera privilegiada por estar em um lugar bom e já vacinada. “Nunca senti uma picadinha tão gostosa!”
Ela conta que já tem planos para quando a vida voltar ao normal: “Quero fazer um churrasco mesmo”, se empolga. “Com direito a cerveja e sem hora para acabar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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