Biden: Quantas gerações mais de filhas e filhos vocês querem que eu envie?
“Eu mantenho totalmente minha decisão”, afirmou Biden. “Os líderes afegãos fugiram e o Exército entrou em colapso sem tentar lutar.”
Nos seus quase 20 minutos de pronunciamento, o democrata defendeu a decisão da retirada das tropas — um movimento amplamente apoiado pela população americana — mas não assumiu culpa pela estratégia de retirada considerada catastrófica. O grande foco das críticas que seu governo tem recebido não está voltado para a saída dos militares americanos do país após 20 anos, mas sim pela maneira como foi realizada. “Depois de 20 anos, aprendi da maneira mais difícil que nunca é um bom momento para retirar as forças americanas. É por isso que ainda estamos lá”, disse.
Até semana passada, o Departamento de Estado rejeitava a ideia de fechar a embaixada em Cabul e defendia que a tomada da capital pelo Taleban poderia levar meses. Hoje, Biden admitiu que a situação “se desenrolou mais rapidamente do que o previsto”.
O presidente argumentou que herdou o acordo feito por Trump com o Taleban, segundo o qual os EUA se retirariam do país até 1o de maio. “Pouco mais de três meses depois que eu assumi o cargo”, disse Biden, ao lembrar que o governo do republicano reduziu de 15,5 mil para 2,5 mil o contingente de soldados no país. Ele tinha uma escolha, disse, cumprir o acordo ou voltar a lutar com o Taleban.
Ele disse que, em julho, o governo de Ghani prometeu que as forças afegãs lutariam para impedir o avanço do Taleban. “Obviamente ele estava errado”, afirmou Biden. “As tropas americanas não podem e não devem estar lutando em uma guerra e morrendo em uma guerra que as forças afegãs não estão dispostas a lutar por si mesmas. Gastamos mais de um trilhão de dólares. Treinamos e equipamos uma força militar afegã maior em tamanho do que os militares de muitos de nossos aliados da OTAN. Nós demos a eles todas as ferramentas de que eles poderiam precisar”, disse Biden. “Demos a eles todas as chances de determinar seu próprio futuro. O que não podíamos fornecer era a vontade de que lutassem por esse futuro”, justificou o americano.
Ele também colocou no governo de Ghani parte da culpa por não ter retirado os aliados civis mais rapidamente do país, uma das mais severas críticas ao governo americano. Com a caótica estratégia de retirada das tropas e o avanço do Taleban, tradutores e outros civis que ajudaram os americanos ficaram para trás e temem retaliações.
“Sei que há preocupações sobre o motivo pelo qual não começamos a evacuar os afegãos e civis antes. Parte da resposta é que alguns dos afegãos não queriam partir mais cedo, ainda esperançosos por seu país. E em parte porque o governo afegão e seus apoiadores nos desencorajaram a organizar um êxodo em massa para evitar o desencadeamento, como eles disseram, de uma crise de confiança”, afirmou o presidente americano.
Biden interrompeu as férias de verão em Camp David e viajou para a Casa Branca para o pronunciamento sobre o Afeganistão. Ele já vinha sendo cobrado por críticos e tido sua empatia com o povo afegão questionada pelo silêncio de mais de 24 horas.
Ele centrou os argumentos no que mais toca o eleitorado americano: o custo financeiro e pessoal de manter a guerra. “Quantas gerações mais de filhas e filhos da América vocês querem que eu envie para a Guerra Civil Afegã quando as tropas afegãs não lutam (essa guerra)? Quantas filas intermináveis de lápides no Cemitério Nacional de Arlington? Não vou repetir os erros que cometemos no passado, o erro de permanecer lutando indefinidamente em um conflito não é do interesse nacional dos Estados Unidos”, afirmou.
Biden prometeu usar diplomacia e influência geopolítica para batalhar pelos direitos de mulheres e civis afegãos, o que foi imediatamente criticado por analistas como “promessas vazias”. “Eu sei que minha decisão será criticada. Mas eu prefiro pegar todas essas críticas a passar essa decisão para outro presidente dos EUA, para um quinto presidente, porque é a decisão certa para o nosso povo”, disse o presidente, que não respondeu perguntas de jornalistas.
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