Brasil cai para a 10ª posição em ranking de preferência de investimentos de CEOs
É o que aponta a consultoria PwC em sua pesquisa anual com presidentes de grandes companhias de todo o planeta. Nas primeiras posições do levantamento estão Estados Unidos (citado por 41%) dos entrevistados), China (27%) e Alemanha (18%). De acordo com o presidente da PwC, Marco Castro, apesar de o Brasil estar barato dada a valorização do dólar frente ao real, o que poderia estimular investimentos por aqui, ele também está mais pobre e sem perspectivas de crescimento por conta das inúmeras crises pelas quais passa, como a política, fiscal e a ambiental.
“O Brasil perdeu relevância em todos os sentidos: o crescimento não está grande e a representatividade para as empresas ficou ainda menor em dólar. O País continua sendo uma aposta de consumo, mas já não está mais como prioridade nos investimentos”, afirma Castro.
De fato, os números para quem procura retorno não são dos mais animadores. De acordo com o último Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne as estimativas dos principais analistas do País, o Brasil deve crescer apenas 0,29% neste ano. Apesar da alta de 0,1 ponto porcentual na edição publicada nesta segunda-feira, 17, o número vem caindo semana após semana. A perspectiva de crescimento é bem menor do que o esperado para diversas economias desenvolvidas, ou seja, menos risco para mais retorno.
Longe das análises, a economia real mostra que alguns estrangeiros estão saindo do Brasil. Em janeiro do ano passado, a montadora Ford anunciou a sua saída do País, apesar de ser uma das líderes do mercado. Além dela, a maior fabricante de cimento do mundo, o grupo franco-suíço LafargeHolcim, também decidiu abandar o mercado local e fechou um acordo com a brasileira CSN para vender a sua operação.
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o Brasil não tem um período de tranquilidade há anos e enfrenta uma sucessão de crises, algo que o governo do presidente Jair Bolsonaro também não ajudou para diminuir. “Apesar de algumas medidas positivas feitas pelo governo, como a lei de falências, o marco do saneamento e a independência do Banco Central, o governo Bolsonaro trouxe crises adicionais, como a questão do risco ambiental”, afirma Vale.
Porém, há quem procure oportunidades por aqui, especialmente os próprios brasileiros. E até que existe bastante otimismo entre esse público, segundo a pesquisa da PwC, acima da média global. Cerca de 63% dos executivos brasileiros ouvidos pela consultoria afirmaram que estão muito confiantes de que as receitas de suas empresas vão aumentar – apenas 5% disseram que não estão confiantes. No mundo, a proporção é de 56% para os completamente otimistas e 4% para os pessimistas.
Fusões e aquisições
Um dos setores que se mostram mais confiantes com uma retomada forte é o de private equity. Não é para menos: as fusões e aquisições bateram recorde em 2021 no mundo, com US$ 5,63 trilhões em volumes de negócios, de acordo com dados da consultoria Dealogic, alta de 63%. No Brasil, segundo levantamento realizado pela consultoria Duff & Phelps, houve crescimento de 52% entre janeiro e novembro.
Não por acaso, a gestora Neo tem planos para dobrar o tamanho do seu fundo para aquisições de participações empresas. Se, hoje, a gestora possui R$ 500 milhões para o braço de private equity, Marcelo Cabral, presidente da Neo, acredita que pode chegar a R$ 1 bilhão captados até o fim do ano diante das oportunidades de mercado.
Mas ele admite que tem sentido o estrangeiro muito receoso com o País. “Os investimentos na área foram bem, mas, dada a desvalorização cambial, os retornos não foram tão atraentes em relação ao risco quando você compara oportunidades em outros locais do mundo”, afirma Cabral. “Porém, pela nossa experiência, trata-se de algo cíclico.”
Essa é uma opinião similar a que tem Marco Stefanini, presidente e fundador do Grupo Stefanini, um dos maiores da área de tecnologia do País. De acordo com o empresário, é um fato de que existe uma depreciação do Brasil nos últimos anos na visão do executivo estrangeiro, mas que ele acredita ser exagerada. “Eu penso da seguinte forma: o Brasil não era tão bom quanto falavam no começo da década de 2010 e não é tão ruim quanto falam hoje”, diz ele. “Precisamos tomar cuidado para relativizar essas análises, pois elas têm uma intensidade acima da realidade, tanto para cima quanto para baixo.”
ESG
Stefanini, contudo, também defende que o País faça um trabalho mais cuidadoso na questão ambiental. De fato, as causas ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) já estão norteando investimentos no mundo inteiro. E, segundo a pesquisa com presidentes feita pela PwC, cerca de 75% dos executivos afirmam que as métricas de negócios estão mais integradas com as estratégias de longo prazo das companhias.
Porém, a história tem dois lados. Ao mesmo tempo que muitos profissionais sabem da importância, apenas 27% das empresas no País assumiram um compromisso de zerar as emissões de carbono ou aderiram a programas net zero. Para se ver o copo meio cheio, é um valor 5 pontos porcentuais acima da média global.
“Por isso é uma notícia boa e ruim ao mesmo tempo. A ruim é que havia a expectativa de que o número fosse maior, mas a parte positiva é que existe um número crescente de empresas aderindo a essas causas”, diz Castro, da PwC.
Uma delas foi a varejista Amaro. Em agosto do ano passado, a empresa decidiu neutralizar toda a sua emissão de CO2, estimada em 15 mil toneladas anuais, ainda em 2021. Mais do que isso, a empresa também criou uma espécie de guia para que outras empresas conheçam o tamanho da sua pegada de carbono e medidas para diminuir ou compensar o impacto.
“Vivemos na empresa dois grandes movimentos que nos impulsionaram no tema: nosso time, formado, em sua maioria, pelas gerações Y e Z e nossas consumidoras, que são ativistas e atentos às causas ambientais”, diz Dominique Oliver, presidente da Amaro. Segundo uma pesquisa feita pela própria companhia, 64% das suas clientes afirmaram que gostariam de comprar de maneira mais sustentável.
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