Brasil quer destaque na conferência do clima
O chefe da delegação brasileira, a maior prevista para eventos deste tipo, é o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite. Em entrevista ao Estadão, ele explicou que pretende falar antes da COP com cerca de 70 representantes dos demais países participantes – no total são 194.
Até agora, discutiu com 40 deles e, em Nova York, onde acompanhou o presidente Jair Bolsonaro discursar na Assembleia Geral da ONU. O ministro argumentou aos Estados Unidos e ao Reino Unido que, pelo fato de o País ser geopoliticamente neutro, tem condições de angariar mais aliados do que as duas grandes economias mundiais.
Um dos pontos principais na Conferência será a determinação das normas mínimas para que haja um mercado mandatório de carbono global. O Brasil pretende estar em lugar de destaque para definir como serão essas regras.
Para Leite, os modelos existentes nos mercados voluntários da Califórnia e na Europa são boas referências a serem levadas em conta na formulação do modelo. “A ideia é que a gente chegue de forma melhor do que foi 2019”, comparou. Naquele ano, não houve consenso sobre como as regras deveriam ser estipuladas e o Brasil foi apontado como um dos responsáveis para que não se chegasse a um acordo. “Pelo Brasil, vai acontecer. Do nosso lado, sai. Faltam os 193 demais países toparem”, comentou.
Para além da atuação externa, o governo pretende fazer do evento um palco de anúncios de medidas que foram ou serão aplicadas no País na área verde. Antes mesmo da COP, Leite disse que serão divulgados os primeiros detalhes do plano de neutralidade climática brasileiro para 2050. Pressionado pela comunidade internacional, em abril, durante a Cúpula de Líderes sobre o Clima organizada pelo presidente norte-americano Joe Biden, Bolsonaro antecipou em 10 anos o prazo para neutralizar as emissões de gases de efeito estufa pelo País. Apesar de a proposta ter sido bem recebida, há dúvidas sobre como o Brasil trabalharia nessa direção, já que as medidas que serão adotadas para tal, até agora, não foram reveladas.
De acordo com Leite, o principal compromisso do momento é com o desmatamento, um dos pontos que mais chamam a atenção da comunidade internacional, principalmente na Amazônia. O programa será conhecido “nos próximos dias”, segundo ele. “Será uma direção em relação às atividades que deverão ser monitoradas para atingir a meta de 37% até 2025; de 43%, até 2030 e de neutralidade em 2050”, explicou o ministro durante a entrevista.
Além disso, concomitantemente à Conferência do Clima, o Brasil vai anunciar o que chama de Plano de Crescimento Verde. Trata-se de um pacote de medidas – algumas já em andamento e que ganharão um viés mais sustentável – que tem a meta de angariar US$ 2 bilhões. Para isso, contará com financiamentos do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês, mais conhecido como Banco dos Brics).
Um dos itens do pacote é a Cédula de Produto Rural (CPR), uma ferramenta de crédito para o setor agrícola que existe há duas décadas, mas que agora terá também um viés ‘verde’, antecipando serviços ambientais. O ministro disse que assinou na última sexta-feira o texto que altera o instrumento.
Além do empenho interno para elaborar o Plano de Crescimento Verde, o Brasil contará com subsídios técnicos de outros países. Nas conversas que manteve nos últimos dias com autoridades estrangeiras, Leite conseguiu a promessa de apoio de Portugal, Cingapura e do enviado especial para o clima dos Estados Unidos, John Kerry.
Devastação
De acordo com a ONG de pesquisa Imazon, a devastação acumulada nos últimos 12 meses na floresta amazônica é a maior desde 2012 – de agosto de 2020 a julho deste ano, 10.476 quilômetros quadrados da floresta tropical foram destruídos. Esta área é equivalente a nove vezes a cidade do Rio. Os dados foram obtidos por meio do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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