Candidato da direita radical chega em vantagem na eleição do Chile
“As autoridades não são capazes de manter a ordem pública e a esquerda relativiza a violência. Se não mudarmos, vamos direto para o precipício e para o subdesenvolvimento”, diz uma propaganda de Kast. No seu programa de governo, duas propostas chamam a atenção: eliminar o atual Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH) e retirar o Chile da ONU.
Segundo Kast, o INDH protege apenas manifestantes – e não a polícia. No caso da ONU, segundo ele, não faz sentido o Chile participar de uma organização que tem como membros Nicarágua, Venezuela e Coreia do Norte. Foi com esse tipo de diatribe que ele decolou, deixando para trás Sebastián Sichel, aliado de Piñera, e Gabriel Boric, o nome da esquerda.
APOIO. Segundo a cientista política Danae Mlynarz, a razão do crescimento de Kast é seu discurso bélico. “É mais que seu discurso de ódio, presente em suas falas homofóbicas, sexistas e xenófobas”, afirma. Sobre imigração, por exemplo, ele promete construir uma vala na fronteira com Peru e Bolívia para impedir a entrada de estrangeiros.
Para Cristóbal Rovira, cientista político da Universidade Diego Portales, Kast mobiliza vários setores do seu eleitorado porque trabalha com “diferentes agendas”, algo característico da direita populista radical. Um desses setores é a “família militar”, da qual fazem parte pessoas vinculadas ao regime militar de Pinochet ou têm saudades da ditadura. “Ele coloca em dúvida se o julgamento feito contra os militares foi realmente justo”, afirma.
Com tal linha de pensamento, era inevitável que Kast gravitasse na direção de Donald Trump e Jair Bolsonaro. Em 2018, ele esteve no Rio de Janeiro e se encontrou com o presidente brasileiro. De presente, deu a Bolsonaro uma camisa da seleção chilena de futebol e uma cópia do livro El Ladrillo, que aborda as mudanças econômicas realizadas pelos economistas liberais de Chicago durante os anos de ditadura militar do Chile.
“Que a gente siga fortalecendo a relação entre os dois países e juntos possamos construir uma aliança que derrote definitivamente a esquerda na América Latina”, disse Kast, na ocasião, pelo Twitter. Hoje candidato à presidência, ele é chamado pela imprensa e por analistas de “Bolsonaro chileno”.
MODERAÇÃO. Apesar da admiração por Bolsonaro e de não ter muito freio na língua, Kast vem tentando se controlar nas últimas semanas e descolar a sua imagem de radical adepto do bolsonarismo. O objetivo é estratégico: angariar mais votos.
Em um debate no fim de setembro, Sichel, um conservador moderado, questionou Kast a respeito de sua paixonite por Bolsonaro. Falando como um bom político, de olho no segundo turno, ele respondeu que não apoia completamente o brasileiro. “Ele fez coisas importantes, como a redução da criminalidade e da corrupção no Brasil. E isso eu apoio”, afirmou.
Filho de um ex-oficial do Exército nazista que imigrou para o Chile, Kast, um advogado, foi deputado federal por quatro mandatos seguidos. Em sua segunda tentativa de chegar à presidência, terá pelo caminho o maior rival ideológico: Gabriel Boric, ex-líder estudantil, que deve atrair o voto da esquerda. O segundo turno ocorre em 19 de dezembro.
Perfis
José Antonio Kast
Ultraconservador
“Se Augusto Pinochet estivesse vivo, certamente votaria em mim”
Líder da extrema direita, contrário ao aborto e favorável ao indulto para os agentes da ditadura de Augusto Pinochet, ele se aproveitou da imagem ruim de Piñera e atraiu os votos dos conservadores moderados, o que lhe rendeu um lugar como um dos favoritos para chegar ao segundo turno.
Gabriel Boric
Socialista
“Um país socialmente fragmentado não pode crescer”
Foi presidente da Federação dos Estudantes, quando surgiu para a política defendendo o ensino gratuito. Deputado de 35 anos, idade mínima para se candidatar à presidência, ele se define como socialista e tornou-se o favorito da esquerda para disputar o segundo turno contra Kast, o candidato ultraconservador.
Yasna Provoste
Centro-esquerda
“Estou localizada no quadrante da experiência, mas longe da elite”
Foi ministra da Educação de Michelle Bachelet e é o nome escolhido pela centro-esquerda. Senadora democrata-cristã, seria uma das favoritas não fosse a polarização política que derrubou as forças políticas tradicionais. No entanto, em um eventual segundo turno, a senadora pode acabar sendo o fiel da balança.
Sebastián Sichel
Direita moderada
“Ser presidente é mais do que ser um líder estudantil, requer muita experiência”
Foi ministro de Sebastián Piñera e presidente do Banco del Estado de Chile – o único estatal do país. Entrou na disputa para ser a voz do conservadorismo chileno e herdar os votos do presidente. No entanto, a baixíssima popularidade de Piñera faz com que ele esteja ameaçado de nem sequer chegar ao segundo turno.
Marco Enríquez-Ominami
Esquerda progressista
“No Chile de hoje, ser de esquerda é antes de tudo ser um inconformado”
Cineasta e filósofo de 48 anos. Ex-socialista, concorre à presidência pelo Partido Progressista. Foi deputado entre 2006 e 2010. Já disputou quatro eleições. Seu melhor desempenho foi em 2009, quando obteve mais de 20% dos votos, a maior votação até hoje de um candidato independente.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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