“Cheguei no fundo do poço e percebi que era preciso mudar”
“Eu era alcoólatra; eu sou alcoólatra”, essa é a afirmação de um homem, de 38 anos, que bebeu por quase 20 anos e está sem fazer o uso há um ano e três meses. Um homem que viu a sua família ser destruída com o tempo, mas decidiu lutar pelo que amava. Ele buscou ajuda em uma clínica e na Irmandade Alcoólicos Anônimos (A.A.).
Uma pessoa que tinha uma vida normal. Concluiu um curso de ensino superior, tinha um trabalho considerado bom, amigos e família. No entanto, ele tinha um vilão em sua vida: a primeira dose do álcool. Com o tempo, somente a bebida alcoólica não o satisfazia e outras drogas foram introduzidas. “Eu cheguei no ‘fundo do poço’. Tive muitas perdas, entre elas, a minha família. Por isso, decidi que era preciso mudar”.
Ele buscou informações e decidiu internar-se. Na clínica, representantes da Irmandade Alcoólicos Anônimos apresentavam a proposta do grupo nas reuniões. “Eram momentos motivadores. Quando terminei o meu tratamento na clínica, a minha decisão foi continuar frequentando as reuniões”, afirma o homem ao complementar que concluiu os 12 passos do A.A. “Eu busquei o grupo Alcóolicos Anônimos como uma ferramenta para colaborar na minha nova vida”.
O alcoolismo é uma doença incurável e progressiva. “Por isso, é o participante – que frequenta a reunião dos Alcóolicos Anônimos – o responsável em dizer se a sua frequência está satisfatória, se a pessoa precisa de mais participações”.
O COMEÇO – O homem recorda que sua vida alcóolica começou ainda na juventude. “Quando eu tinha 12 anos de idade, lembro que o meu pai pedia para fazer caipirinha e eu provava para saber se o gosto estava ideal para o meu pai”.
No decorrer dos anos, ele passou a perceber que precisava beber algo para se sentir mais à vontade na sociedade. No entanto, conforme os anos passavam, a quantidade de álcool ingerida aumentava. “Me formei e comecei a trabalhar e o consumo de bebida alcoólica continuava aumentando”.
O único momento em que o homem não ingeria bebida alcóolica era na Quaresma. “Eram 40 dias sem beber. Porém no último dia, já comprava a cerveja e quando dava meia-noite começava a beber”, recorda.
Quando o álcool se tornou um problema na vida dele? Quando o homem passou a ser o último a ir embora das reuniões entre amigos, festas, enfim. “Contudo, eu não gostava de beber em bar. A minha opção era beber em casa ou com amigos. Porém, eu fazia o uso desenfreado da bebida e, na sequência, comecei a usar outras drogas”.
Foi nesta época em que se separou de sua esposa, se afastou de amigos e deixou a desejar no emprego. Segundo o homem, o alcóolatra potencializa os seus defeitos, como prepotência, arrogância, mentira, auto-piedade, enfim. “Eu passei por diversas situações até a minha internação na clínica. Durante o tratamento, reconheci os meus defeitos; detalhes que não conseguia observar antes”.
O RETORNO – Após receber alta da clínica, o homem voltou ao convívio com a sua família. “Minha esposa compreendeu o momento em que estava vivendo. Ela entendeu que o alcoolismo era uma doença e eu estava doente. Assim, decidimos reconstruir a nossa relação. Foi tudo algo muito natural”.
Ele recorda que quando fazia o uso do álcool tinha o hábito de mentir para a sua companheira. “Eu mentia para ir em algum lugar para beber. Atualmente, levo uma vida feliz. Tenho paz de espírito e o A.A. colabora com isso”.
A felicidade do homem não tem relação financeira, e sim, o simples fato de estar bem consigo. Ele conta que decidiu comemorar o seu aniversário neste ano. “Nós bebemos coca, água tônica e suco. Os meus amigos foram convidados e se fizeram presentes. Foi algo maravilhoso e no outro dia consegui lembrar o que havia feito no dia do meu aniversário. Não briguei ou fui grosseiro. Esse é um estímulo para eu continuar na sobriedade”.
O homem aprendeu a ter paciência e serenidade nas atitudes. Ele entendeu o conceito de humildade. “Isso tudo que vivo é a frequência no grupo Alcóolicos Anônimos. A minha força de vontade me ajuda e aprendi a colocar as minhas angústias no meu poder superior e vejo que está dando certo”.
Apesar de muitos avanços na vida do personagem, o homem ainda precisa resolver muitos problemas ocasionados. “Tenho reparações a serem feitas. Aos poucos tudo melhorará. Estou contente. Vivo um lindo momento em minha vida. Minha família tem a minha atenção. Agradeço ao trabalho da clínica e ao grupo do A.A. As reuniões estão dando certo e elas podem auxiliar outra pessoa. Os encontros dão coragem, porque você ouve o outro e encontra muitas respostas. Você consegue entender a vida e corrigir os defeitos de caráter. Eu sou alcoólatra; eu era alcoólatra”, finaliza o homem.
Da Redação