Clínica de Fisioterapia da Unioeste ajuda pacientes com nova rotina pós-Covid-19

O colegiado do curso de Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) fica no terceiro andar do bloco de salas de aula do campus de Cascavel. São seis lances de escadas que Alexandre Ferrari, coordenador do curso, precisa subir até chegar na sala dele. Em maio deste ano, ele teve Covid-19 e precisou ser internado por 12 dias. Quando voltou para o trabalho presencial, os sintomas respiratórios da doença ainda persistiam, mesmo após o tratamento da doença.

“Eu não conseguia subir os três andares aqui. Eu subia dois andares, aí parava um pouquinho e chegava aqui em cima morto. Tinha um sofazinho ali perto do colegiado de Pedagogia, perto da escada, que eu sentava para respirar porque eu não conseguia respirar”, lembra o professor.

Há quase dois anos no Brasil, o coronavírus já contaminou mais de 22,2 milhões de brasileiros e nem todos tiveram uma recuperação completa para voltar a realizar as atividades cotidianas, desde as mais simples, como limpar a casa, até as mais complexas, como praticar exercícios físicos. Ainda na segunda metade de 2020, o Centro de Reabilitação Física (CRF)/Clínica de Fisioterapia da Unioeste começou a atender pessoas que apresentavam a Covid-19, servindo de amparo a essas pessoas.

“Os pacientes começaram a ser encaminhados para o tratamento multidisciplinar devido sintomas respiratórios, osteomusculares, neurológicos e cardiovasculares. Aqui na Clínica Escola de Fisioterapia, também funciona um Centro de Reabilitação Física em que atuam outros profissionais da saúde, além dos profissionais fisioterapeutas”, destaca a professora Keila Okuda Tavares, que realiza atendimentos de fisioterapia respiratória e supervisiona discentes do curso de Fisioterapia nas atividades de ensino da disciplina de Fisioterapia Pneumofuncional.

Alexandre foi um dos pacientes submetidos ao tratamento no CRF/Clínica de Fisioterapia da universidade. Foram três meses de reabilitação pulmonar, além do protocolo domiciliar de exercícios diários. “Eles me passaram exercícios para eu repetir ao longo dos dias em casa e aquilo me ajudou de uma forma impressionante. Eram exercícios físicos e respiratórios, e isso me deu uma autonomia que eu não tinha, naturalmente que eu iria me recuperar, mas eu acho que me recuperei muito mais rápido por conta desse atendimento na clínica de fisioterapia”, destaca o professor.

Segundo o diretor do Ambulatório de Fisioterapia, Rodrigo Genske, mesmo que os pacientes tenham se recuperado da fase aguda da doença, muitos precisam ser submetidos ao tratamento devido algumas sequelas e complicações. “Muitos pacientes tiveram 40%, 50% e até 70% do pulmão comprometido, isso significa uma dificuldade importante na parte respiratória, cardíaca e mesmo que ele tenha se recuperado do Covid-19, ele passou pela doença, mas não se recuperou totalmente dessas complicações”, explica.

O programa de reabilitação pulmonar é composto de exercícios que melhoram a força e a resistência tanto dos músculos respiratórios, como os músculos de extremidades, membro superior, inferior e de tronco. “A gente tem que preparar o indivíduo para estar com força e resistência da musculatura respiratória e não respiratória (motora) para fazer as atividades do dia a dia que a pessoa já fazia. O objetivo é preparar o paciente para voltar às atividades que executava antes de ser acometido pela doença”, salienta Keila.

Para Alexandre, que tem 56 anos, problemas cardíacos e teve 55% dos pulmões comprometidos, esse antes e depois é impressionante. “Eu sinto que ainda não estou 100%, meus pulmões estão muito menos comprometidos, mas já voltei para atividade física, já voltei andar de bicicleta, caminhar, academia. Eu fazia muita atividade física, andava muito de bicicleta, fazia academia três vezes por semana, caminhava todos os dias, e depois não conseguia dar um passo, é inacreditável”, afirma o professor.

Os pacientes que o CRF/Clínica de Fisioterapia da Unioeste recebe são encaminhados pelos hospitais e unidades de saúde do município de Cascavel. No CRF/Clínica Escola de Fisioterapia, o paciente encaminhado passa pela avaliação da equipe multiprofissional, sendo encaminhado para as especialidades que seu caso demanda, também é feita a avaliação da capacidade pulmonar dos pacientes.

Conforme Keila, o tratamento da reabilitação pulmonar para os indivíduos que apresentaram sintomas respiratórios tem duração, em média, de três a seis meses, mas o tratamento pode variar conforme o nível de intensidade e acometimento do sistema respiratório pelo coronavírus, da idade do paciente e do diagnóstico de doenças respiratórias prévias. Na clínica são atendidos pacientes com idades variadas (bebês, crianças, adolescentes, adultos jovens e idosos).

CLÍNICA ESCOLA – Os atendimentos da Clínica de Fisioterapia da Unioeste são feitos pelos estudantes do 3º ano do curso de Fisioterapia na disciplina de Fisioterapia Pneumofuncional, com supervisão da professora Keila Okuda Tavares. “Para os discentes, essa é uma experiência única de poder aprender na prática a realizar a avaliação e o tratamento de pessoas que foram acometidas por uma doença que está nos noticiários todos os dias”, comenta a professora.

Uma das alunas que passou pela experiência de trabalhar com a recuperação de pessoas que tiveram a doença, e hoje é monitora da disciplina de Fisioterapia Pneumofuncional, é Camila Costanaro. A estudante destaca os procedimentos que são realizados no tratamento e que ela teve a oportunidade de conhecer, estudar e utilizar nas atividades práticas de ensino. “No tratamento disponível na Clínica Escola trabalhamos a reabilitação pulmonar com exercícios globais, exercícios respiratórios e treinamento aeróbico”, pondera.

De acordo com Alexandre, a atuação dos alunos, desde o primeiro atendimento dele na clínica, foi muito profissional. “Em princípio eu achei que eles já eram formados, eu só descobri que eles eram estudantes na medida que eles foram dizendo que estavam fazendo estágio, de tão responsáveis que eles eram, alguns eu falava ‘cara, você já é um fisioterapeuta’, de tão bom que os meninos e as meninas eram”, aponta o coordenador do Curso de Letras.

Ainda para a estudante Camila, observar a evolução dos pacientes faz com que o trabalho seja recompensador. “É muito gratificante ver a evolução dos pacientes, com alguns atendimentos eles já melhoram, a falta de ar e o cansaço diminuem, saturam melhor e conseguem cada vez mais evoluir nos exercícios. Minha experiência foi ótima, é muito bom poder ver a evolução dos pacientes e quando eles recebem alta, muito melhor do que chegaram”, complementa.

Da AEN

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