Coalizão em Israel sofre primeira fissura
A prorrogação da lei dependia de uma vitória por maioria simples, mas a medida recebeu 59 votos a favor e 59 contra. O resultado, que veio depois de uma longa noite de debates, expôs fissuras na coalizão governista liderada por Bennett. Dois integrantes do partido islâmico árabe Raam (Lista Árabe Unida) se abstiveram de votar e um membro rebelde do Partido Yamina, de Bennett, votou contra o governo, arrancando aplausos da oposição.
A lei que proíbe a cidadania ou residência permanente a esses palestinos entrou em vigor em 2003 em meio à Segunda Intifada e deve ser renovada anualmente. Nos últimos 17 anos, ela vinha sendo aprovada por maioria.
Os palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza que se casam com árabes-israelenses solicitam com frequência a concessão de cidadania para que possam viver com seus cônjuges. Muitos casais são forçados a viver separados durante anos, ou correm o risco de serem presos se forem descobertos em território israelense sem permissão.
Embora o processo continue sendo longo, repleto de condições e obstáculos, os palestinos casados com cidadãos de Israel poderão, a partir de agora, solicitar a nacionalidade israelense e, assim, alcançar a reunificação familiar.
Os palestinos em Israel representam 20% da população do país. Esses cidadãos descendem de palestinos que permaneceram em suas terras após a criação do Estado de Israel, em 1948. Autoridades israelenses alegam que a lei precisaria ter sido renovada por questões de segurança, mas ONGs e críticos afirmam que a medida é uma forma de Israel manter a maioria judaica.
“Estou casada há 26 anos e tenho de renovar minha residência temporária anualmente”, disse Asmahan Jabali, palestina casada com um homem de Taybeh, um vilarejo árabe no centro de Israel. Jabali, que coordena uma campanha contra a lei, estima que dezenas de milhares de famílias estão em situações semelhantes. “Esta é uma vitória temporária, mas é só o começo.”
Disputas políticas. A votação ressalta os desafios que o ultranacionalista Bennett já começa a enfrentar para administrar sua coalizão ideologicamente diversificada. Para que a lei fosse prorrogada, Bennett precisava dos votos de seus adversários políticos, começando pelo Likud, partido do ex-primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Embora a legenda seja favorável à lei, votou contra para se opor à coalizão que tirou seu líder do cargo, após 12 anos consecutivos no poder.
Netanyahu declarou a seus correligionários que “o mais importante é derrubar este governo perigoso e apoiado por partidos antissionistas”.
“A oposição colocou a segurança de Israel em risco”, afirmou o Partido Yamina, em um comunicado. Prometendo “consertar” a situação, Bennett disse ontem que Netanyahu e outros escolheram “a política mesquinha à custa do bem dos cidadãos de Israel, e deverão um longo acerto de contas por suas ações”.
“Há coisas com as quais não se brinca. A segurança do Estado é uma linha vermelha. O Estado precisa controlar quem entra e quem obtém a nacionalidade”, disse Bennett.
Amichai Chikli, o membro do Yamina que votou com a oposição, disse que o resultado foi um sinal sobre questões mais profundas. “Israel precisa de um governo sionista que funcione, não de uma colcha de retalhos incompatível que dependa” dos votos dos legisladores árabes, disse Chikli. Ele foi o único membro de seu partido a se opor ao novo governo de coalizão no mês passado.
Negociação
Segundo a ministra do Interior, Ayelet Shaked, do partido de Bennett, a atitude da oposição levará a “15 mil pedidos de nacionalidade (israelense)”. Ela afirmou que havia negociado com a sigla de esquerda Meretz e com o islâmico Raam, e se eles votassem em favor da prorrogação da lei, 1.500 palestinos que já têm visto de residência em Israel obteriam a nacionalidade.
A votação expôs as profundas divisões e a fragilidade do novo governo. Mas a decisão deu esperança às famílias árabes afetadas pela lei. A legislação criou uma série de dificuldades para milhares de famílias palestinas que se estendem pelas fronteiras traçadas pela guerra e em grande parte invisíveis que separam Israel de Jerusalém Oriental, Cisjordânia e Gaza, territórios que conquistou na guerra de 1967 que os palestinos desejam para um futuro Estado. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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