A travessia de 2023

Luiz Vicente Suzin

O ano de 2023 apresenta-se repleto de desafios nos planos nacional e mundial. Será, portanto, um período inquietante para todos – inclusive para o cooperativismo brasileiro. Uma série de fatores coloca os empresários e os governos em estado de atenção, porque o horizonte aponta para uma desaceleração da economia mundial e baixo crescimento do comércio de bens, cenário agravado pela crise energética e instabilidade geopolítica provocada por vários conflitos, sendo a guerra Rússia-Ucrânia o principal deles.

No universo político, uma nova fase inicia com a posse da administração federal e dos governadores para o quadriênio 2023-2026. Da eficiência das novas diretrizes macroeconômicas e da capacidade de aglutinação da sociedade dependerá, em grande parcela, o sucesso do novo governo.

O risco de descontrole fiscal é a maior preocupação dos gestores. O pensamento médio dos economistas sobre o ano novo – num exercício de meditadas previsões – é que o PIB do Brasil cresça 0,75%, a inflação atinja 5,08%, a taxa Selic recue para 11,75%. O câmbio orbitará em torno de R$ 5,25 o dólar e o consumo das famílias crescerá modestamente 0,8%.

O quadro de dificuldades deve ser encarado com serenidade, mas o desafio central deve ser reequilibrar as contas públicas. Para isso será necessário cortar gastos, ou seja, enxugar o tamanho do Estado. O perfil dos novos governantes – fulcrado na defesa de maior presença do Estado na economia – permite antever, entretanto, que essa premissa não se concretizará.

As diretrizes da política econômica do presidente eleito Lula ainda não foram plenamente anunciadas, mas sabe-se que uma proposta de reforma tributária deverá ser formulada pelo novo governo ao Congresso. Essa pode vir a ser uma importante reforma estruturante se for pautada pela simplificação, desburocratização e justiça fiscal.

Em Santa Catarina e no Brasil as cooperativas continuarão a dar sua contribuição na prestação de serviços, na produção e na parceria com o setor público, dinamizando as economias locais e regionais, consolidando e interiorizando o desenvolvimento.

De todos os ramos do cooperativismo, o agronegócio continuará sendo a locomotiva a impulsionar o País. Em Santa Catarina, o agro responde por 70% das exportações e 31% do PIB estadual. No Brasil, gera mais de US$ 100 bilhões em superávit na balança comercial.

Um dos objetivos será manter o protagonismo de 2022, quando foram abertos 49 novos mercados, entre eles suíno para o México, milho para China e banana para Egito. Alguns óbices podem atrapalhar, como a desaceleração das importações da China e a ameaça de recessão na América do Norte e na Europa.

O agro e as cooperativas do setor darão máxima contribuição, mas esperam, em 2023, apoio da política externa do governo federal em ações para a promoção da imagem do Brasil no exterior, muitas vezes malvisto por exceções. A assinatura de novos acordos comerciais é outra expectativa, visto que o Brasil exporta muitos produtos pagando tarifas, o que dificulta a agregação de valor.

A retomada de um programa de investimentos em rodovias, portos, terminais, armazéns etc. será essencial para evitar a perda de competitividade do agro, parcialmente anulada pelas deficiências de infraestrutura. Novo impulso tomarão os programas e investimentos para estimular as energias oriundas do agro, como a Política Nacional de Biocombustíveis, biodíesel, biometano, etanol de milho, pois ganham crescente reconhecimento como energias limpas.

Por todas as condicionantes políticas, econômicas, sociais e ambientais, o ano de 2023 exigirá determinação, serenidade, racionalidade e espírito público para que seja uma travessia exitosa para todos.

Luiz Vicente Suzin, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).

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