Eduardo Klaue
Um velho mestre de Ciências Antigas e Antropologia, que veio da índia e se tornou professor em uma Universidade pública do Rio Grande Sul, me contou em um evento, uma passagem em que havia sido procurado por um de seus alunos que fora reprovado pela terceira vez em uma outra matéria. O aluno estava irado com seu professor, pois cada vez que ia falar com ele perdia a cabeça, e acabava morrendo de raiva, pois por mais que gritasse, reclamasse, batesse na mesa o professor continuava a ler calmamente seu livro e apenas dizia uma única frase: – Veja que dia lindo está fazendo lá fora!
O jovem já pensara até em desistir da faculdade, pois a imagem calma do professor o deixava em pânico e o irritava cada dia mais. Já estava até indo a um psicólogo, pois não conseguia mais dormir a noite de tanta raiva que sentia.
O velho mestre lhe disse que o professor que o reprovara era um grande amigo e aprendiz, e que o seu problema logo seria resolvido, então lhe contou uma bela história que recebera: “Nos conta a lenda dos tempos em que Buda meditava sob a sombra de uma árvore quando chegou até ele um insultador. O insultador dirigiu palavras grosseiras, de calúnias e outras mais, que todos os Mestres que se propõem a ajudar a humanidade sempre estão sujeitos, sem nenhuma exceção.
Buda frente ao insultador ficou tranquilo, sem reagir, da mesma forma que o Cristo frente às calúnias e chicoteadas também não reagiu.
Como Buda não reagia foi-se embora bravo o insultador… .Um discípulo de Buda que havia presenciado a cena aproximou-se do Mestre e atônito perguntou:- Mestre, aquele homem dirigiu a ti duras palavras e te caluniou e o Senhor não reagiu? Buda respondeu: – Oh! Discípulo, se tu levas a alguém um presente e este alguém não aceita, com quem fica o presente? – Comigo mesmo. Respondeu o discípulo. – Então… Simplesmente não aceitei o presente que aquele homem me trouxe….
E continuou: -… Muitas vezes na vida, chega-se até nós uma pessoa irada, aceitamos seu presente e também ficamos irados…Chega-se até nós uma pessoa melancólica, aceitamos seu presente e também ficamos tristes…Chega-se até nós uma pessoa luxuriosa, aceitamos seu presente e caímos na fornicação…Chega-se até nós uma pessoa medrosa, ansiosa, deprimida, insegura, materialista, invejosa, cobiçosa etc… Aceitamos seu presente e nos tornamos iguais a ela.
Por esse motivo às pessoas colocam a culpa pelas suas infelicidades, dores e sofrimentos nos amigos, inimigos, esposa, esposo, vizinhos, governos, etc… . O jovem discípulo baixou a cabeça e foi meditar ao lado de Buda”.
Pensativo o aluno falou ao velho Mestre: – Acho que já entendi sua mensagem e também o fato do professor não se incomodar com meus desabafos. Na verdade, eu é que estava me prejudicando cada vez que me enraivecia, e então levava tudo de volta comigo.
Pelo que me contou o velho professor, o jovem tornou-se no ano seguinte um dos melhores alunos da turma, e finalmente foi aprovado. Foi então procurar o professor e pedir desculpas por tanta indignação nos anos anteriores. Quando chegou na sala, lá estava o professor lendo seu livro, e então disse: – Desculpe-me professor pela ira dos anos anteriores.
Ouvindo o jovem falar, o professor convidou-o a sentar-se e disse: – Veja que dia lindo está fazendo também aqui dentro! E os dois tornaram-se grandes amigos.
Esta história contada pelo meu eterno instrutor, nos mostra como as pessoas tornam suas vidas destruídas quando aceitam que os outros tenham poder sobre ela. Mostra-nos que o verdadeiro Poder do Controle Pessoal está em conseguirmos conviver com os problemas dos outros e os nossos, sem que percamos o controle e eles se tornem maiores do que nós.
Da mesma forma nos dá uma dica de como devemos tratar as pessoas sem que sejamos afetadas por suas iras ou agressões. É como dizia o velho sábio “na sua hora, cada um levará sobre a cabeça o carvão incandescente que preparou para acender a fogueira de sua vida” .
Um abraço do Klaue para todos os amigos leitores e ao velho mestre, lá onde esteja…
