Demissão humanizada e o ESG

* Por Bruno Martins

Nos últimos dias, viralizou nas redes sociais a informação de uma pessoa que foi demitida e recebeu da empresa uma cesta com bombons para amenizar o mal-estar. Além da falta de respeito, a atitude é extremamente ineficaz. Desde então, muito tem se falado sobre demissão humanizada, “saudável” e em acolher o profissional neste momento. A grande realidade é que não é simples tornar essa ocasião algo bom. Os desligamentos são, muitas vezes, inevitáveis e devem ser feitos – preferencialmente – depois de feedbacks, devolutivas e de muito investimento para que esse profissional não precisasse ser desligado. 

O desligamento nunca é um processo simples ou fácil de ser conduzido. Mas, é possível amenizar seus efeitos com o apoio de equipes qualificadas e com o uso de metodologias capazes de gerar o que chamamos de demissão humanizada. Nesse modelo, a empresa adota medidas bilaterais para demonstrar empatia e respeito, tranquilizar e apoiar os colaboradores no processo de transição de carreira. Alguns exemplos são os seguintes: pacotes estendidos de benefícios como planos de saúde para toda a família, e treinamento online para atualização e capacitação.

Mas, é possível ir muito além… Para entender o assunto, a recolocação, ou o outplacement, é o conceito que torna as demissões mais leves, harmoniosas e, portanto, humanizadas. O intuito, além de ajudar os colaboradores, é fazer com que esse momento não seja de medo, ansiedade ou desespero. A ideia central é ajudar o colaborador a se reorganizar e atingir novas metas na carreira, tendo como primeiro passo oferecer apoio psicológico para que ele saiba lidar com o desligamento da melhor forma e também identifique seus próximos objetivos. 

Oferecer esse tipo de solução é tornar essa situação menos desafiadora de ser enfrentada. Não podemos dizer que torna o momento saudável, mas que sim ajuda para que os obstáculos possam ser superados. Nessa ocasião, muitas pessoas acabam descobrindo, por exemplo que, na verdade, querem mudar de área (transição de carreira) ou abrir a própria empresa, seguir caminhos diferentes daquele que estava sendo trilhado. Com isso em mente, o próximo passo é oferecer o apoio de orientadores e profissionais especializados para traçar um novo plano de carreira para o colaborador. 

Com o plano em mente, é hora de começar a agir. É neste momento que o colaborador recebe orientações de bons cursos, treinamentos, o seu currículo é otimizado, passa por algumas aulas sobre como lidar com entrevistas de emprego, entre outras atividades importantes. Dessa forma, o profissional volta ao mercado mais preparado para não só conseguir aproveitar as novas oportunidades, mas também conduzir uma carreira de sucesso. 

A empresa que deseja aplicar essa abordagem no seu dia a dia pode melhorar o clima organizacional, já que os colaboradores se sentem mais importantes e apoiados durante o período de trabalho – como de fato merecem. Essa metodologia também favorece a redução do número de processos trabalhistas, porque presta apoio ao colaborador mesmo após o desligamento. Além disso, os valores institucionais são reforçados, o impacto da demissão na equipe – que ainda continuará trabalhando na organização – é minimizado e a reputação e imagem da corporação da empresa perante a sociedade também se mantêm positiva no mercado. Fatores esses que são fundamentais e que fazem parte do pilar social das práticas ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança).

Demitir um funcionário é sempre um momento delicado que não tem nada a ver com o gesto de dar cesta de chocolates ou presentes para os funcionários. O desligamento talvez seja o momento mais difícil. É preciso ter bom senso para tornar esse processo menos desagradável e traumático. 

* Bruno Martins é CEO da consultoria Trilha Carreira Interativa. 

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