O aquecimento global e o agronegócio brasileiro

Dilceu Sperafico*

O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, com mais de três mil páginas e elaborado por mais de 200 pesquisadores, sem dúvida alguma, é muito preocupante na medida em que expõe os riscos do aquecimento global à humanidade, incluindo o comprometimento da produção de alimentos, além de desastres naturais extremos.

O documento foi publicado nesse dia nove de agosto pela Organização das Nações Unidas (ONU), destacando a influência humana no aquecimento do planeta, com prejuízos inestimáveis para a população de nações ricas e pobres, de todos os continentes.

Como soluções, os especialistas sugerem a redução imediata da emissão de gases de efeito estufa, com a mobilização e ações práticas e imediatas de governos, empresas e cidadãos. A meta é limitar a elevação da temperatura média global em 1,5°C, que na atualidade está em torno de 1°C, causando eventos extremos do clima, que afetam a qualidade de vida de pessoas de todo o mundo.

Conforme os pesquisadores, a reversão do atual quadro depende de medidas efetivas do poder público e setores produtivos, mas também de instituições e indivíduos, pois a soma de ações isoladas também pode ajudar a diminuir o impacto do aquecimento global, já que o ser humano está envolvido em atividades que emitem, direta ou indiretamente, gases do efeito estufa em seu dia-a-dia.

Entre essas ações individuais estão o abandono de veículos movidos por combustíveis fósseis e a adoção de medidas simples, como controlar o consumo de energia elétrica e água, deixar de jogar lixo doméstico nas ruas, rios, matas e oceanos e preferir alimentos naturais, em substituição aos produtos multiprocessados.

Essa contribuição pessoal, no entanto, depende muito mais de países ricos. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma pessoa emite 16 toneladas de gases de efeito estufa por ano, enquanto a média global é de cerca de quatro toneladas. Para evitar aumento de 2ºC na temperatura global seria necessário diminuir essa média para duas toneladas por ano.

Para isso, habitantes de todo o planeta devem fazer boas escolhas no uso de meios de transporte e tipos de alimentação, pois os resultados de ações de empresas e governos dependem das atitudes das pessoas, o que significa que decisões individuais podem impactar positivamente na crise climática.

Na prática, as pessoas devem usar menos carros e mais ônibus, bicicletas, patins e até mesmo caminhadas, reciclar produtos e materiais, destinar corretamente os resíduos e, especialmente, consumir produtos naturais e certificados, estimulando a economia local, reduzindo emissões de carbono no transporte e favorecendo produtores que respeitam as questões ambientais.

Mesmo contrariando interesses comerciais e econômicos estrangeiros, os produtores rurais do País entendem que são os maiores interessados na preservação dos recursos naturais, na medida em que exercem atividade econômica a céu aberto e são os primeiros e os que mais perdem com adversidades climáticas, como secas, temporais e enchentes.

Assim, o Brasil preserva 66% de suas terras férteis e cobertas de vegetação nativa, restringe a agricultura a 65 milhões de hectares, as pastagens nativas a 68 milhões de hectares e cultivadas a 112 milhões de hectares, o equivalente a 7,8%, 8,0% e 13,8% de sua área total, respectivamente, contando com agronegócio moderno, produtivo, diversificado e sustentável.    

*O autor é ex-deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado

E-mail: dilceu.joao@uol.com.br

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