O Brasil e o desafio da autossuficiência na produção de fertilizantes

Dilceu Sperafico

Mesmo que os desfechos e males da guerra da Ucrânia continuem sendo imprevisíveis e incalculáveis, tantos nos aspectos humanos, econômicos e políticos, o Brasil está correto ao anunciar para o final deste mês de março, o lançamento do Plano Nacional dos Fertilizantes, retomando estudos iniciados em novembro de 2021, que visam a redução da dependência externa de componentes de adubos agrícolas.

Como maior produtor mundial de alimentos e matérias-primas, o País não pode continuar importando a quase totalidade dos produtos utilizados na formulação de fertilizantes, chegando ao volume de 95% no caso do potássio, adquiridos de diversos fornecedores, como Rússia, Canadá, Israel, Belarus e Alemanha.

O Brasil, vale lembrar, dispõe de reservas consideráveis desses minerais, que podem ser exploradas com sustentabilidade e benefícios para toda a população brasileira, especialmente na produção, oferta e exportação de produtos agrícolas. O País, é preciso acrescentar, tem florestas e vegetações nativas cobrindo mais de 64% de seu território, onde apenas 21% são ocupados por pastagens e somente 8,0% por lavouras agrícolas.  

Mesmo assim, cerca de 70% da matéria-prima dos insumos usados na formulação de adubos para o cultivo de alimentos vêm do exterior, pois o País enfrenta dificuldades para adquirir produtos necessários para manter a alta produtividade de suas plantações, como são os fertilizantes. Essa realidade contraria a condição de um dos maiores produtores agrícolas do mundo, com papel importante de fornecedor de grãos para diversos países.

Conforme especialistas, em 2021 o Brasil importou 41,6 milhões de toneladas de fertilizantes, somando 15,1 bilhões de dólares. Somente em janeiro de 2022, foram compradas 2,3 milhões de toneladas do insumo, volume 15,2% inferior ao mesmo período no ano passado.

Os fertilizantes reúnem nitrogênio, fósforo e potássio e são largamente utilizados pelo setor agrícola do País e do mundo, tendo entre seus grandes fornecedores a Rússia e a Bielorússia. Para que o Brasil mantenha a alta produtividade das commodities agrícolas, como a soja e o milho, os agricultores precisam tratar o solo com nutrientes e corretivos, sanando possíveis deficiências nutricionais.

Conforme especialistas, o Brasil nem sempre possui matérias-primas para produção desses insumos e quando dispõe, muitas vezes não as utiliza com essa finalidade, até por falta de infraestrutura e tecnologia. Essa realidade é desconhecida de cidadãos urbanos e consumidores, pois o Brasil popularizou a tese da terra fértil, na qual bastaria plantar para colher tudo o que se deseja ou necessita. Na verdade, na terra brasileira nem tudo dá, pois os solos do País são, em grande parte, pobres em nutrição e é necessário elevar e corrigir a capacidade nutricional para obter maior produtividade nas plantações.

Além disso, cada cultura necessita de fertilizante e/ou corretivo diferentes para se desenvolver, dependendo de quais nutrientes a terra precisa, para render o necessário e remunerar o agricultor, garantindo os alimentos que os cidadãos necessitam.

Conforme especialistas, a soja, por exemplo, exige muito fósforo e potássio, já o milho requer nitrogenados. Para completar nossas preocupações, a Rússia já teria recomendado a fabricantes de fertilizantes do País para suspenderem suas exportações, para determinados países importadores.

O autor é ex-deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado

E-mail: dilceu.joao@uol.com.br

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