Seria o Burnout o resultado da falta de empatia das empresas?

Patricia Punder Marcela Argollo

Uma das consequências do mundo globalizado e competitivo que estamos vivendo hoje é a síndrome do Burnout (distúrbio causado pelo esgotamento físico e mental dos profissionais), resultado das cobranças excessivas, stress, comunicação violenta, menor empatia, dentre outros, normalmente no ambiente corporativo.

A busca incessante das empresas por lucro rápido e resultados financeiros desafiadores tem gerado uma excessiva cobrança dos gestores em relação aos seus colaboradores, que acabam sendo cobrados a bater metas quase surreais. Muitas empresas consideram tais metas como desafios aos colaboradores, visando extrair dos mesmos ideias e ações diferenciadas. Entretanto, a sensação que pode ser gerada, além de impotência, seria o medo de perder o emprego.

Fica a sensação para o colaborador de que nada do que o mesmo faz seria bom o suficiente. Se um colaborador consegue fechar um acordo de valor alto em um determinado ano, normalmente no próximo ano terá que lutar para fechar um negócio cujo valor será o dobro. As áreas estratégicas das empresas, lideranças e recursos humanos desenvolvem planos de mercado baseados em técnicas de planejamento. Contudo, se esquecem que existe questões que impactam o planejado, ou seja, a vida real. As empresas que fizeram o planejamento para o ano de 2019 não levaram em consideração a real ameaça de uma pandemia global.

Isso gera, portanto, um extremo stress e ambiente predatório. Dois ingredientes que juntos não conseguem transformar nada em inovação. As empresas precisam mudar o mindset de busca do lucro para realização de um proposito maior. O fomento desse ambiente predatório leva os colaboradores a vestirem uma máscara e armadura para caberem naquele ambiente, afinal na mente estão indo para uma “batalha” diária. Esse fato se agrava com o mundo multicultural no qual no acolhimento à diversidade, tudo vale, fazendo com que a conduta ética seja questionada. Porém só conseguimos ser éticos quando deixamos nossa essência e verdade aflorarem.

Para que uma empresa tenha uma governança corporativa forte ela precisa ser transparente e posicionada, para que isso ocorra, essa empresa precisa viver sua verdade e seu propósito, para viver isso precisa de líderes com princípios e valores iguais aos dela atuando ativamente e diariamente no engajamento dos colaboradores. Tudo está interligado e tem início nos valores e princípios éticos. Quando entendemos que princípios são itens não negociáveis conseguimos ter uma segurança e confiança nas pessoas, afinal os princípios e valores dos líderes e colaboradores que estão alinhados com os da empresa.

O que realmente ocorre são pessoas cansadas e estressadas, vestindo armaduras para lutar diariamente e sobreviver a um ambiente predatório, não conseguindo assim viver com a guarda baixa, em sua verdade e essência, levando então a um esgotamento físico e mental (burnout) afinal de contas, ninguém consegue sustentar um personagem por muito tempo! Essa necessidade contínua de se obter mais e mais lucros levam pessoas a viverem no piloto automático deixando de usar sua intuição e percepção sobre as ações, não permitindo ter senso crítico e empatia para avaliar a ética nas situações do cotidiano.

A solução para a melhoria da saúde mental dos colaboradores seria então um maior foco das empresas em metas reais, de médio e longo prazo, com uma cultura orientada para o acolhimento e empatia. Encarar de frente que a pandemia fez os problemas de saúde mental aumentarem incrivelmente e que se não for tratado de forma humanizada, o afastamento dos colaboradores será uma realidade, o turnover uma normalidade e, finalmente, afetará a imagem da empresa, pois o mundo não tolera mais culturas tóxicas.

Patricia Punder, advogada é compliance officer com experiência internacional. Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP). Uma das autoras do “Manual de Compliance”, lançado pela LEC em 2019 e Compliance – além do Manual 2020.

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