A culpa é da imprensa?
Uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo mostrou que, em dezembro do ano passado, o procurador-geral da República Augusto Aras autorizou o pagamento de salários de até R$ 446 mil. Não, o leitor não está lendo errado, muito menos houve erro de digitação. Este foi o valor pago – assim mesmo, no passado – ao procurador regional José Robalinho Cavalcanti, cujo salário base é R$ 35,4 mil, mas que no fim do ano passado recebeu a ‘bagatela’ de R$ 446 mil em rendimentos brutos, a partir de, como indica o Estadão, “penduricalhos”. O vice procurador-geral eleitoral, Paulo Gonet Branco, recebeu um pouco menos: R$ 332 mil. A PGR informou que os pagamentos foram feitos porque os gastos caíram nos meses da pandemia.
Por essas e outras é que o Brasil dificilmente será um país sério em qualquer realidade, seja agora ou no futuro. Enquanto não houver uma mexida drástica neste tipo de situação é impossível vislumbrar cenário diferente deste que se apresenta hoje, seja lá quem vencer a próxima eleição, até porque estes “penduricalhos” não foram atrelados aos salários dos procuradores hoje. São fruto de um passado tenebroso que faz o serviço público destoar demais de quem sobrevive com um salário mínimo de R$ 1.210.
Sim, houve redução de gastos na pandemia porque o mundo inteiro mudou diante deste novo cenário. Na iniciativa privada centenas de milhares de trabalhadores tiveram ajustes em seus vencimentos e na carga horária para poder manter o emprego, assim como as próprias empresas precisaram se adequar diante da queda abrupta de receita em praticamente todos os segmentos.
De que adiantou a economia se todo o atrasado foi pago? Fossem os procuradores trabalhadores da iniciativa teriam levado quase toda empresa à falência diante de tantos benefícios que produzem aberrações como este, até difíceis de acreditar. Um salário de quase R$ 36 mil é mais que suficiente para manter um padrão de vida confortável para qualquer ser humano, ainda mais num país paupérrimo como é o Brasil. Mas a ânsia em ganhar mais, mais e mais não sacia nunca. A sede em mamar na teta que cada dia está mais seca do poder público parece não ter limites. Infelizmente estes “penduricalhos” não estão apenas nos salários dos procuradores federais, pois em outras esferas da administração pública notícias como essa se repetem ano após ano, governo após governo…
E depois a culpa é da imprensa!
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