A Marcha do Pires
Após dois cancelamentos em função da pandemia do novo coronavírus, administradores municipais de todo o país estão em Brasília esta semana participando de mais uma edição da Marcha de Prefeitos. A maior preocupação é com a anistia sobre a não aplicação do índice mínimo na Educação durante o período quando o Brasil parou. Na prática essa manifestação rende muitos poucos efeitos práticos, até porque esse movimento de prefeitos indo e vindo a Brasília não se resume a apenas uma semana. Acontece o tempo todo, seja de maneira direta ou indireta, através dos despachantes escolhidos pelos gestores: os deputados.
A Marcha dos Prefeitos poderia se chamar Marcha do Pires. Sem medo de errar! Não por culpa dos próprios gestores municipais, mas por um sistema político que vai muito além da reunião se homens e mulheres que nem sempre aproveitam esse tempo para efetivamente pensar em solucionar os verdadeiros problemas das cidades que administram. Muitos estão lá apenas para aumentar os próprios salários com diárias polpudas, pela festa, pela oportunidade de deixar para trás mazelas e ‘curtir’ o planalto central e seus atrativos inimagináveis na maioria das cidades brasileiras.
Muitos concordam que o sistema é equivocado, que a distribuição dos recursos está equivocada, que o sistema tributário brasileiro precisaria ser rediscutido, entre outros problemas, entretanto, poucos têm a coragem de minimamente iniciar qualquer tipo de discussão neste sentido, até porque isso implicaria em mudanças muito além da questão econômica. Seria preciso uma mudança cultural, de comportamento mesmo. Este é o grande problema no país, pois mudar cultura significa acabar com determinados privilégios, cortar na própria carne como se diz. Infelizmente nem todos estão dispostos a fazer a cota de sacrifício necessária a fim do Brasil ser efetivamente um país, não de todos, mas da maioria.
Até lá será preciso manter as marchas meramente políticas que na prática pouco surtem efeito porque a relação de dependência é tão arraigada na alma do cidadão que ele não consegue mais enxergar o quão nocivo é o Estado paternalista que ele, cidadão, ajuda a sustentar durante uma cada vez maior parte do tempo.