A solidariedade dos órgãos

A doação de órgãos é um ato de solidariedade. É a família que decide mesmo que em vida a pessoa tenha manifestado o desejo de doar. Em um momento de dor os familiares não têm muito tempo para pensar sobre o assunto. Na verdade, a situação é uma luta contra o tempo, envolve toda uma logística de abordagem, de procedimentos de captação desses órgãos, daquela outra vida que aguarda em uma extensa fila de espera.

Com o diagnóstico de uma morte encefálica, os familiares veem o ente querido deixar uma brecha na alma e a chance de ajudar a salvar outras vidas. Vidas de estranhos. Vidas que são importantes para outras vidas. Vidas que lutam por essa chance.

Essa batalha pela vida envolve milhares de pessoas movidas por fé e esperança. Em cada dia, elas alimentam a expectativa de que o telefone vai tocar e uma boa notícia será anunciada. Esperar por um órgão é uma batalha intensa. Como se o início e o fim pudessem se misturar de alguma maneira. Enquanto uma família chora, a outra comemora a chance recebida. Tudo faz sentido diante de um grandioso ato de solidariedade.

A participação de profissionais capacitados é fator importante para que o processo seja realizado sem deixar dúvidas. O Hospital Bom Jesus atua na capacitação de profissionais voltados a esse tipo de atendimento. A Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (Cihdott) atua para que os familiares estejam amparados e o ato de solidariedade seja concretizado.

No ano passado, o Bom Jesus realizou 25 protocolos – ou seja, 24 famílias passaram pelo processo. De janeiro a maio de 2021, 8 famílias foram abordadas e todas concordaram com esse gesto de doação. Os números são menores em relação aos anos anteriores – apesar de envolver diversas situações variantes – pois a pandemia também atingiu esse setor da saúde.

No Paraná, 2300 pessoas estão aguardando uma doação, o Estado registra, neste ano, um dos menores índices de recusas familiares em entrevistas para doação de órgãos no país. Em todo o Paraná, apenas 22% das famílias não aceitaram, até maio, doar algum tipo de órgão de um familiar.

Não existe logística de controle dessa fila. Estudos apontam que temos quatro vezes mais chances de precisarmos de um órgão do que se sermos um doador, por isso, a importância de falar sobre o assunto, de expor o desejo, de ter conhecimento sobre o diagnóstico de morte encefálica, de não ser indiferente mesmo em um momento de dor.

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