Bravatas e a verborragia
Depois de toda a polêmica, que nos levou à sensação de crise institucional cujas conseqüências ainda não é possível quantificar, a Câmara dos Deputados rejeitou a PEC 135/2019, que determina a impressão dos votos nas urnas eletrônicas como forma de auditoria e eliminação de dúvidas. Mas o assunto não está liquidado. Há no Senado a PEC 182/2007, já aprovada pela Câmara em 2015, que também cria a obrigatoriedade de impressão do voto. Desse projeto, apenas a criação da janela para a mudança de partido sem a perda de mandato foi aproveitada pelos senadores e o restante ficou engavetado. Agora a ideia é fazer a proposta avançar no Senado, haja vista já ter tramitado dentro da Câmara. Mais uma daquelas manobras típicas da política tupiniqui9m que cada vez mais atira pelo ralo o – ainda que seja parco – respeito que resta pela classe.
A impressão dos votos seria mais uma daquelas medidas igualmente típicas da nação tropical, como o kit de primeiros-socorros nos veículos ou os extintores. Mera especulação, tanto do ministro Luiz Roberto Barroso, presidente do TSE, que garante a inviolabilidade e segurança das urnas eletrônicas, quanto do presidente Jair Bolsonaro, que sem voto impresso s eleições poderão ser fraudadas. São meras suposições que apenas inflaram a discussão mas não trazem solidez às afirmativas e, positivamente, não devem ter sido a razão da decisão de voto dos deputados.
Foi apenas mais uma queda de braços com componentes surreais e milhares de eventos paralelos tumultuadores, como o desfile dos tanques pela Esplanada dos Ministérios promovida para tentar impor respeito, mas que na prática demonstrou ser mais uma micagem.
É possível aperfeiçoar o sistema eleitoral brasileiro? Evidente que sim, ainda mais com tantos avanços tecnológicos que possibilitariam dirimir quaisquer dúvidas sobre como votou cada eleitor. A descentralização do processo de apuração, hoje restrito ao TSE e mantido como propriedade de seus técnicos, poderia ser um início, pois não haveria tanta demora na liberação dos dados e, e, em caso de pane como aconteceu na eleição passada, haveria estados trabalhando simultaneamente, facilitando a compreensão do andamento das urnas. A confiabilidade do processo eleitoral é fundamental à sociedade. Ela dará ao eleitor a certeza de que o seu voto foi contabilizado para o candidato de sua preferência, tenha ele sido ou não eleito. O que não se pode mais admitir é o jogo de bravatas, a verborragia desmedida entre figuras ilustres em torno de assunto tão sério.
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