Decisões difíceis

O Brasil retomou com ampla força o debate – sempre acalorado – em torno do aborto. O caso da atriz Klara Castanho reforça a necessidade de se trazer luz à escuridão que quase sempre domina o debate sobre um assunto onde as decisões nunca são fáceis e onde os sentimentos podem suplantar a razão. E vice-versa. Klara levou adiante uma gravidez, mesmo sendo fruto de um aborto, e deu a criança para adoção tão logo nasceu. Ao invés de ser protegida pelo sistema que lhe faculta esse direito, foi exposta de uma forma desnecessária, baixa, torpe.

Foi taxada como fosse uma criminosa, sendo que ela sim á a vítima na história. Não a criança, cujo destino agora está nas mãos do sistema legal que existe no Brasil e em geral funciona bem. A criança não foi abandona, atirada numa lata de lixo qualquer. Nasceu e foi doada por ser fruto de uma gravidez indesejada, de um estupro como tantos outros que acontecem no país, como aconteceu com uma criança de apenas 11 anos em Santa Catarina e uma juíza decidiu proibir o aborto.

Decisões difíceis em torno de um assunto cujos referenciais religiosos por vezes dominam o debate e a ignorância em torno de um assunto que sequer deveria haver discussão. Deveria ser um direito da mulher e apenas a ela lhe competir a decisão sobre o que fazer sobre seu próprio corpo. O mantar ‘meu corpo, minhas regras’ deveria ser a tônica do debate. No Brasil, infelizmente, não é e por razões óbvias, afinal, ainda o Brasil é uma nação machista, arcaica quando se trata de direitos das mulheres e culturalmente retrógrada em assuntos envolvendo sexo.

Klara Castanho foi estuprada! Mas isso pouco importa para muitos. Enquanto no Brasil ouvem-se histórias escabrosas de crianças sendo dadas por famílias de trabalhadores para serem criadas por seus patrões ou então mães que trocam recém-nascidos por comida, além de outras até mais dramáticas, Klara Castanho deu uma aula de cidadania e de respeito a si e ao próximo. Seu exemplo deveria ser referenciado e não recriminado. A recriminação precisa recair sobre os agentes públicos que tornaram público um caso, por lei, que deveria ter ficado em sigilo.

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