Dor silenciosa
De acordo com o observatório da Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas, 1.207 pessoas estiveram em condição análoga à de trabalho escravo e foram resgatadas no Paraná de 1995 a 2021. Uma média de 44,7 resgatados por ano. Em Toledo, sete pessoas já foram resgatadas nestas condições desumanas. Apesar de invisíveis, os casos existem. A sociedade precisa passar por um processo de conscientização, pois essa situação é considerada crime. O município de Toledo recebeu o 8º Seminário Internacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.
O assunto, infelizmente, ainda é visto como um tabu, até porque é algo que nos parece distante demais, até meio cinematográfico, entretanto, está aí, batendo à nossa porta sem mandar recado. E é um recado que carrega consigo uma dor silenciosa de quem enfrenta o tráfico, pois não há muito a quem recorrer, isso sem mencionar barreiras difíceis de idioma diferente muitas vezes, preconceito, questões econômicas, a vergonha, a humilhação exagerada, o medo, entre tantos outros componentes emocionais que envolvem pessoas em situação de tráfico.
E os criminosos se valem dessa condição de vulnerabilidade justamente para poderem lucrar com o desespero do outro. Triste observar pessoas sendo espezinhadas como se não valessem nada, como se suas vidas fossem uma simples mercadoria.
Mais triste ainda é perceber o quanto a sociedade em Toledo e região evita o assunto. No ‘paraíso’ sobre a terra chamado Oeste do Paraná falar em miséria, em pobreza, em crimes contra o próximo é quase um pecado mortal, como fosse tudo perfeito. Não é!
No recém realizado Fórum Estratégico de Empregabilidade, promovido pelo Programa Oeste em Desenvolvimento, professores da Unioeste trouxeram um dado estarrecedor: nada menos que 17 mil famílias dependem de algum tipo de benefício social para sobreviver. O termo está correto: não se trata de viver, mas de sobreviver diante da situação de extrema pobreza na qual se encontram. O tráfico de pessoas não é feito apenas entre países, pois quando o ser humano não tem condições mínimas de dignidade não deixa de ser um tráfico de pessoas.