Melhor idade?
O isolamento refletiu e reflete em diversos aspectos na sociedade. Uma medida necessária para ajudar a combater a Covid-19, mas que desencadeou, ou dependendo do caso, contribuiu para agravar problemas já existentes. Se o seio familiar já estava doente, a convivência contínua, o ‘não ter como fugir’, apenas intensificou as situações.
A questão não é o isolamento, mas sim o caráter humano. A maioria das situações de violência ou abusos contra a pessoa idosa ocorre dentro de casa, sendo praticada por familiares. Justo a família, aquela que é considerada a principal figura de cuidado e provimento do idoso.
Dados da 3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Toledo apontam que em 2020 e 2021 foram realizados 103 atendimentos em relação a possível violação de direitos de pessoa idosa. Esse número chegou até um órgão competente que atua para combater a violência e garantir os direitos da pessoa idosa.
Segundo a Promotoria, “isolamento social decorrente da pandemia pode ter acarretado no aumento de subnotificações de casos de violência ou ameaça a direitos dos idosos”. O MP não parou de atender. Desde 2020, os atendimentos aconteçam seja por telefone, whatsapp ou e-mail, utilizando as ferramentas possíveis para que a pessoa idosa não ficasse desassistida.
São inúmeras das divergências familiares: dificuldades financeiras, vícios em drogas lícitas ou ilícitas, até mesmo a abstinência dessas drogas; contudo, nada justifica negligenciar a pessoa idosa, cometer algum tipo de violência, seja ela física, psicológica ou emocional. Nada justifica.
Neste período também, o MP, aponta que aumentaram as situações de violência patrimonial ou financeira, principalmente, nas famílias em que o idoso é fonte de renda importante, ou até mesmo o provedor dos demais moradores da casa. A crise econômica, os reflexos da pandemia empobreceu as famílias. Vale destacar que o provento da pessoa idosa para custear as despesas comuns do núcleo familiar não é algo ilegal. Porém, o uso deve respeitar a autonomia e o consentimento da pessoa, sem deixa-la sem recurso ou em prejuízo.
Este período difícil de pandemia foi mais gatilho para expor dolorosas situações que acontecem no seio familiar. Sem respeito, sem os cuidados necessários, sem empatia, esse público que é vítima de violência está longe de viver a melhor idade.