O medo de falar
No Brasil, em geral, as lideranças públicas adoram os holofotes. Quando estes lhes são benéficos e exaltam qualidades muitas vezes quase imperceptíveis ou que deveriam ser, afinal, quando um agente público age dentro daquilo que a lei ou os preceitos do cargo exigem, nada mais fazem a não ser a obrigação para a qual foram escolhidos, seja através do voto, seja através de um concurso público.
Agora, quando ocorre o contrário e a sociedade, a imprensa ‘apertam’ um pouco o cerco, exigem respostas diante de fatos menos ‘atraentes’, ocorre um silêncio sepulcral. Quase ninguém se atreve a dar respostas, a vir a público e emitir uma opinião. Homens e mulheres escolhidos para serem líderes ou armas contra atos que possam colocar em xeque a seriedade das causas públicas, simplesmente se calam, se omitem.
Os vereadores, que são os fiscalizadores da administração pública, preferem em geral atrelar-se ao poder Executivo, quase como um adendo, um ‘puxadinho’ como alguns classificam a relação nem sempre saudável entre os poderes que, sim são harmônicos e independentes entre si. Na teoria! Na prática nem sempre isso ocorre. Prevalece a máxima do “quem cala consente” e projetos suspeitos são aprovados sem a menor cerimônia.
Uma máxima que prevalece é a de que o povo tem memória curta e logo, logo, por pior que seja o projeto ou a ação, a sociedade esquece. Este tem sido um dos argumentos usados por alguns vereadores nos bastidores para votar o imoral projeto do reajuste de quase 35% nos salários do prefeito, vice e secretários apresentado na Câmara Municipal e que tornou Toledo assunto falado em âmbito nacional pelo absurdo que passaria a ser, caso o projeto seja aprovado. A sociedade realmente no Brasil tem memória curta, pois somente isso explica a reeleição de algumas pessoas comprovadamente envolvidas em escândalos; o povo é possível que nem memória tenha, pois somente isso é capaz de explicar o apoio a nomes que deveriam estar presos e não participando da vida pública como se nada tivesse acontecido. O medo de falar não pode ser também o medo de agir. E agir de maneira correta.