A carne é fraca?…

A discussão se aproximava de um possível ponto de ruptura na relação conjugal. Ele se desculpava. Ela o lembrava de que não era a primeira vez que ele deixava de cumprir com o compromisso assumido com ela por meio do casamento. A cena se repetia. Ele argumentou:

– Perdão, meu amor, é que a carne é fraca!

Ela não falou nada. Não precisava. A pergunta que se faz: será verdade que a carne é fraca? A expressão tem origem bíblica (Marcos 14:38) e, quase sempre retirada de contexto para se justificar pelos comportamentos divergentes dos compromissos assumidos. Trata-se de uma desculpa para aqueles que tem o caráter, a mente, e o espírito fracos. A expressão afasta da pessoa a responsabilidade pelas escolhas feitas e pelas decisões tomadas. Por isso, “a carne é fraca” quando você assume o compromisso da fidelidade num relacionamento conjugal e não o cumpre revelando um caráter fraco. “A carne é fraca” tão logo você se compromete a entregar determinados resultados numa organização e não os entrega, mostrando a falta de empenho como característica. “A carne é fraca” no momento em que a pessoa afana, rouba, assalta ou desvia recursos de outros para saciar desejos privados, deixando a integridade em segundo plano não querendo arcar com o ônus do ato. “A carne é fraca” sempre e quando confundimos as necessidades humanas com os desejos mundanos, justificando-nos pelas escolhas feitas em detrimento de compromissos espontaneamente assumidos. Desse modo, usar somente parte da expressão como justificativa de uma escolha mal feita, reforça o entendimento de que “a carne é fraca” para quem não tem o caráter forte. A expressão completa encontrada no versículo citado é “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca”. Aqui resgata-se a autonomia, o livre arbítrio ou o poder de escolha que cabe a cada um juntamente com as responsabilidades inerentes. Podemos falar de Inteligência Positiva para resgatar o nosso sábio, porque vigiar para não se deixar levar pelas tentações de não cumprir com os compromissos é o trabalho de diminuir a influência dos sabotadores. A pausa é essencial para observar sem culpar o outro e sem se culpar para manter a escolha feita. A pausa é fundamental para registrar os sentimentos próprios e os alheios pelas decisões tomadas. A pausa faz toda diferença para identificar as necessidades sem confundi-las com os desejos. Enfim, a Pausa é que te dará a opção de se expressar autenticamente, agindo em conformidade com as escolhas e os fatos sem tirar de contexto uma expressão para justificar, por vezes, o injustificável.

Depois de ouvir a justificativa de que “a carne é fraca” ela ficou em silêncio. Fez uma pausa. Observou. Sentiu. Soube o que queria. E respondeu:

– Foi uma escolha tua. Respeito. Agora assuma as consequências…

Ela se expressou com a sabedoria de quem conseguiu dominar os seus sabotadores internos para fazer a sua escolha. Ela soube naquele momento que uma pessoa não é uma necessidade, mas que a presença, a companhia e a conexão são necessidades essenciais para ela que devem estar acompanhadas de integridade, honestidade, lealdade e fidelidade. Desse modo, sempre que for usar a justificativa de que a carne é fraca é essencial lembrar que o espírito deve ser preparado para estar pronto para vigiar e assumir as responsabilidades pelas escolhas feitas. Por fim, entendo que “a carne é fraca quando o caráter não é forte”!

Moacir Rauber

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