Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles terão lucro!

A vida havia sido dura para ele, porque parecia que de tempos em tempos ela lhe dava uma rasteira ou um castigo. Com o passar dos anos, quase sempre, apercebia-se que se tratava de um empurrão. Essa situação ficou evidente quando ele foi demitido depois de trinta anos na empresa por ser considerado velho e “demasiadamente honesto” (https://facetas.com.br/2022/01/10/bem-aventurados-os-que-sao-demasiadamente-honestos/). Os anos se passaram e a pessoa que o demitiu, batia-lhe a porta. Ele vira crescer o homem que o despediu e que estava diante dele, porque era filho do seu falecido amigo. A conversa entre os dois começou com amenidades, lembranças dos tempos em que o amigo de um e o pai do outro estava vivo. Era a conversa que desconversa preparando para a conversa que revela. E a revelação veio. Depois de cinco anos conduzindo a sólida empresa herdada de seu pai, o filho estava com dificuldades. A segurança que se revelava nas atitudes arrogantes de demitir pessoas que eram parte da história da empresa tinham como base a sólida situação econômica. Isso tudo desaparecera juntamente com os recursos financeiros. O filho era o tipo de pessoa que precisava ter para ser, menosprezando quem não tinha. Por anos fora arrogante, prepotente e nada misericordioso. A ideia de ser compassivo gerava aversão ao filho que dirigia a empresa, porque acreditava que era uma emoção ou um sentimento para os fracos que não tinham espaço em seu mundo de certezas. Hoje, o filho sentado diante do amigo do seu pai, homem que ele demitiu, se sentia diminuído por já não ter os recursos que garantiam a força de seu ser. Depois da conversa inicial, finalmente, reconheceu a sua fragilidade, dizendo:

– Primeiro, peço desculpas pelas minhas atitudes que em nada honraram a visão, os valores e as crenças do meu pai…

Todo o discurso que se seguiu gerou uma satisfação inicial nele que se sentira humilhado ao ser demitido há cinco anos. Para muitos, viria a ideia da vingança ou da revanche, uma vez que a antiga empresa estava em dificuldades e ele poderia cumprir o papel de a ajudar ou não. Para ele, inicialmente, não foi diferente. Pensou “A vida dá voltas…” com certo desdém. A sensação de vitória lhe passou pela mente, porém logo mudou o rumo dos seus pensamentos e sentimentos. Não se tratava de uma vitória dele. Tratava-se de uma oportunidade para demonstrar ser quem ele era, sem julgar ou se satisfazer com as dificuldades do outro. Ele poderia trabalhar inúmeras faces positivas da situação, começando pela misericórdia. “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles encontrarão misericórdia” fala de reciprocidade a partir daquilo que cada um carrega dentro de si. Qualquer um poderia dizer que isso é lindo, mas no mundo dos negócios não se aplica. O que importam são os números. Concordo em gênero, número e grau com a importância dos números para os negócios, porém eles acontecem entre pessoas. Por isso, quem perdoa será perdoado. Os bondosos encontrarão bondade. Os compassivos descobrem a compaixão. Os humanos se deparam com a humanidade do outro. As relações humanas falam de reciprocidade, assim os que dão lucro obterão lucro. Agora falamos de negócios.

Enfim, entendo que o Sermão da Montanha ao falar que são “bem-aventurados os misericordiosos, porque encontrarão misericórdia” fala das relações entre pessoas que fazem negócios e que para evoluir precisam da reciprocidade. A colaboração motiva a colaboração. A cooperação desperta a cooperação. A reciprocidade promove a reciprocidade. Pergunta: mas se ele pensasse em reciprocidade, por que ele exerceu o perdão? Nesse momento, há que ser inteligente para ver e dar a oportunidade de perdoar que faz com que o outro tenha a oportunidade de melhorar e de crescer. Com isso todos ganham e quando todos ganham aparece o lucro. Reciprocidade? O lucro impulsiona mais lucro. O que é lucro para você? É a reciprocidade dos bem-aventurados que tem inteligência, coração e humanidade para ser misericordioso.

Moacir Rauber

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