Bem-aventurados os pobres de espírito… Mentalidade de crescimento!

A obra havia começado na data marcada, porém estava atrasada. O Engenheiro que a conduzia visitava o local de duas a três vezes por semana e não entendia a razão do atraso. Um dos pedreiros, que escutava a conversa do engenheiro com o dono da obra, fez um comentário com sugestões sobre os próximos passos. O engenheiro retrucou:

– Quem é o engenheiro aqui? Se quiser tocar a obra vai fazer um curso de engenharia…

E seguiu com uma ladainha de autoafirmação que revelava o ego e o orgulho feridos de quem acredita que não tem nada a aprender com o outro. O pedreiro baixou a cabeça e voltou ao trabalho. Da situação se podem extrair algumas aprendizagens, entre elas a diferença entre pobres de espírito e espírito pobre (Sermão da Montanha), que se alinham com a mentalidade de crescimento e a mentalidade fixa (Carol Dweck). Por fim, pode-se propor uma solução a partir da CNV – Comunicação Não-Violenta (Marshall Rosemberg) para a gestão de conflitos. Ao olhar para a afirmação bíblica “Bem-aventurados os pobres de espírito”, pode-se pensar que se trata apenas de uma visão religiosa de interpretação da realidade com uma chamada ao vitimismo. Nada mais equivocado. A complexidade da afirmação começa com o entendimento de que “pobres de espírito” são aqueles que estão abertos para a aprendizagem e evolução ao reconhecer as infinitas possibilidades que a humildade traz. Os pobres de espírito se conectam com as pessoas sabendo que podem aprender com elas. A bem-aventurança citada traz em si muitas das constatações da neurociência e exibe a mentalidade de crescimento como um caminho evolutivo que pode nos levar ao paraíso. Aceitar a pobreza de espírito faz com que a minha fragilidade não seja vista como uma ameaça, mas uma oportunidade que se manifesta na interdependência com o outro. Não importa o cargo ou a função, porque não se trata de julgar. Por outro lado, alguém com espírito pobre não está aberto à aprendizagem. Ele crê que precisa provar para os outros que sabe, característica de alguém com mentalidade fixa. Trilha-se o caminho de ver ameaças em quem pensa diferente, passando a odiar a própria fragilidade na agressividade com o outro. Dessa maneira, “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus!” é um convite à evolução por meio da humildade que permite explorar as possibilidades presentes na aprendizagem contínua. Qual a ação que o coloca no caminho da evolução na sua organização e na sua vida? Qual foi e qual poderia ter sido o resultado da conversa entre o engenheiro e o pedreiro?

No final daquele dia, o pedreiro com seus trinta anos de experiência se demitiu, atrasando ainda mais a obra. Ele tinha escolhas. O engenheiro teve a sua capacidade questionada pelo dono da obra que entendeu a sugestão do pedreiro como boa. A CNV como ferramenta de desempenho poderia ter sido usada pelo engenheiro, caso ele estivesse conectado com os “pobres de espírito” da humildade com abertura para aprender. Ele poderia ter reconhecido o (1) fato de que a obra estava atrasada, o que gerava nele o (2) sentimento de ansiedade, porque tinha a (3) necessidade de cumprir com os seus compromissos, um valor. Qual a (4) estratégia a ser adotada para atender a sua necessidade? Ofender o pedreiro não o ajudou. O convite do Sermão da Montanha para nos reconhecermos como pobres de espírito não é fácil, porque somos humanos e falíveis. O ego, o orgulho e o medo estão presentes em nós, características de espírito pobre. A CNV pode nos ajudar ao propor que pausemos (Miriam Moreno), observemos, sintamos, identifiquemos as necessidades para adotar uma estratégia que seja solução para ambos. Eis os pobres de espírito que com humildade optam por aprender pela curiosidade e criatividade sem julgar. Pobres de espírito ou espírito pobre? Uma reflexão para o NATAL. A escolha é de cada um.

Moacir Rauber

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