Está clara a sua comunicação?

As dificuldades da comunicação organizacional, em geral, estão ligadas a falta de clareza. Falamos muito nas entrelinhas e sem todos os elementos necessários. O mais natural seria que nos comunicássemos de forma objetiva e direta o que se pretende transmitir, utilizando os recursos mais adequados para o meio onde nos encontramos. Um exemplo clássico de uma mensagem clara e completa está na promessa de casamento:

– Eu, Fulano, recebo-te por minha esposa a ti, Cicrana, e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da minha vida.

Está muito claro (1) quem promete, (2) para quem promete, (3) o que promete, (3) em quais condições vai cumprir o prometido e (5) por quanto tempo se compromete. Na comunicação organizacional as mensagens que seguirem essas recomendações serão efetivas. Mesmo assim, as entrelinhas são constantes em nosso processo de comunicação. Justificadamente, usa-se o sentido nas entrelinhas para manter o encanto e a magia, levando a sedução aos românticos e apaixonados. Usa-se o sentido nas entrelinhas nas poesias que comunicam muito além das palavras literalmente escritas. Usa-se o sentido nas entrelinhas na tela do artista, que neste recurso encontra uma forma de ampliar a grandeza de sua obra. Usa-se o sentido nas entrelinhas para provocar a reflexão sobre determinados assuntos, para despertar a curiosidade, fazendo com que a pessoa a quem se destina a mensagem construa seu próprio conhecimento, como na relação do professor com seu aluno. Usa-se o sentido nas entrelinhas para criticar um sistema que não permite ser censurado, sendo uma ferramenta importante na mão de críticos e jornalistas em países onde a liberdade é cerceada. Em nenhum destes processos de comunicação o sentido nas entrelinhas das mensagens denota falta de capacidade. Em todos eles o sentido nas entrelinhas destaca o belo, o bonito, o bom e a boa intenção, explícita ou implicitamente. Ressalta-se a capacidade do ser humano de criar, de imaginar e de instigar novas interpretações para uma mensagem, independentemente do modo como ela foi transmitida. Entretanto, o sentido nas entrelinhas também é utilizado por quem não deveria. Muitos diretores, gerentes e colaboradores nas empresas pecam ao não comunicar com sua mensagem tão somente o que ela tem a dizer. Peter Drucker, guru da administração, afirmava que 60% dos problemas das organizações empresariais se referiam as falhas de comunicação, causadas pela falta de clareza, agigantando problemas e criando confusões pelo sentido dúbio das mensagens. Portanto, em sua comunicação organizacional siga os passos propostos por quem já se comprometeu na promessa de casamento: está claro (1) quem e (2) para quem se fala? Está explícito (3) o que se fala? Estão estabelecidas (4) as condições daquilo que se fala? Está delimitado (5) o prazo daquilo que se fala? Cumpridas essas condições, pode mandar a mensagem.

Dizer o que deve ser dito com educação e respeito na vida pessoal e organizacional garantirá relações mais tranquilas e duradouras. Oxalá alcancemos o dia em que as mensagens somente tragam sentido nas entrelinhas para ressaltar o belo, a emoção e a boa intenção, destacando a capacidade humana de ampliar o mundo por meio da imaginação e do mistério. Einstein dizia que “a mais bela emoção é o mistério. Se o homem soubesse de tudo, sua vida perderia a graça, pois a beleza está na curiosidade, no estudo, na pesquisa, na hipótese, na sensação de que sempre falta alguma coisa a saber”. Enfim, muitos casamentos terminam não por falta de clareza daquilo que foi prometido, mas simplesmente porque acabou o mistério, …

Moacir Rauber

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