O que vem a seguir?
O nosso grupo de estudos avalia o estudo da INOVA com base na pergunta: o que vem a seguir? Fala-se da criação de máquinas e humanos superinteligentes, a singularidade, num ambiente de revoluções tecnológicas e biológicas impulsionadas por um grupo de forças motrizes nem sempre visíveis. Saí da última reunião com a cabeça fervilhando de ideias positivas, por um lado, e de medos subjetivos, por outro, e uma pergunta na cabeça: para quem haverá espaço nesse novo cenário? No sábado seguinte, almocei com um grupo de pedreiros numa obra. Expediente terminado, churrasco e conversa. Falar sobre singularidade, revoluções e forças motrizes? Nem pensar. No dia a dia deles isso não teria nenhum sentido, porém, o impacto disso tudo era visível, porque discutiam o andamento da obra por meio de aplicativos. Cada um deles contando das suas experiências de vida. O primeiro tinha 25 anos e um filho a caminho. Estava feliz com o trabalho na obra e com os bicos que fazia como artesão. O segundo tinha 33 anos, uma filha de 7 e saía de um divórcio, mas agradecia o fato de estar trabalhando como carpinteiro. O terceiro tinha 49 anos, filho agricultor que era mestre de obras. Contava com orgulho que estava casado há 25 e tinha seis filhos com a mesma esposa. Ele lembrava de um conselho de seu falecido pai:
– Estudo não posso te dar, mas te dou três ferramentas que se você as souber usar nunca lhe faltará o pão na mesa.
Em seguida lhe entregou um martelo, um serrote e uma enxada. O martelo está associado a profissão de pedreiro, assim como a colher e o prumo. O serrote está relacionado a profissão de marceneiro e carpinteiro, assim como o esquadro e a plaina. A enxada está ligada a profissão de agricultor, assim como a pá e a tesoura de poda. Esse pai não podia imaginar as mudanças que viriam, entretanto tive que reconhecer que os seus conselhos trazem muita sabedoria. É uma realidade vivida por bilhões de pessoas. Comparativamente, o que nós discutimos no nosso grupo é uma projeção de realidade. A pesquisa parte do conceito principal do que vem a seguir, a SINGULARIDADE, que é entendida como a hipotética criação futura de máquinas e humanos superinteligentes. A singularidade está apoiada em duas revoluções simultâneas, a INFOTECH, o uso de computadores para armazenar, recuperar, transmitir e manipular informações, e a BIOTECH, o uso de sistemas vivos e organismos para desenvolver produtos. Revoluções essas impulsionadas pelas FORÇAS MOTRIZES da (1) Tecnologia e Conectividade; (2) Ambiente e Clima; (3) Política e Economia; (4) Social e Humano; (5) Saúde e Bem-estar; e (6) Educação, Empresas e Negócios. Desse conjunto resultam 18 megatendências, 30 tendências comportamentais e 30 tendências de negócios. As discussões sobre as mudanças que virão com os benefícios e os riscos inerentes produzem sensações distintas. Entusiasma-se com as inúmeras possibilidades. Amedronta-se pela imprevisibilidade de mudanças tão radicais. Alguma diferença entre as projeções de realidade e a realidade dos obreiros?
Particularmente, entendo que as três profissões citadas nos conectam com as necessidades básicas do ser humano, trabalhando com o essencial. Sem pedreiros não há casas, ficamos sem abrigo. Sem carpinteiros não há camas, ficamos sem descanso. Sem agricultores não há alimentos, ficamos com fome. As projeções de que humanos e máquinas superinteligentes vivam interconectados vão ocorrer com a minha concordância ou não, entretanto, seria importante considerar que nós não poderemos nos abrigar do frio e do calor na internet; nós não poderemos dormir na “rede” de computadores; e nós não poderemos nos alimentar com a tecnologia que produzimos. Enfim, entendo que se a singularidade for tratar com máquinas e pessoas superinteligentes, as revoluções infotech e biotech e as grandes forças motrizes devem se conectar com o mundo que mantém a vida. Enfim, para que o superinteligente seja verdadeiro é preciso fazer sentido. As revoluções que vêm a seguir fazem sentido? Se não fizerem, para que revolucionar?
Moacir Rauber
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