O que você pensa quando alguém fura a fila?

Escolhi os meus produtos e me posicionei na fila do caixa da farmácia.  Era uma manhã tranquila, entretanto quando percebi uma senhora se parou na minha frente, um pouco ao lado. O atendimento demorava e a senhora começou a resmungar demonstrando impaciência. Na minha mente comecei um diálogo nada educado. Pensava, “Que mal-educada! Fura a fila e quer ser atendida na hora. Não deve ter nada para fazer em casa e está aqui enchendo. No mínimo não sabe o que fazer da vida…”, entre outras ideias nada edificantes. O caixa finalizou o atendimento do cliente à minha frente, portanto, seria a minha vez. Ele olhou para mim para que eu me aproximasse. A senhora ao meu lado já havia começado a se mover em sua direção, porém se deteve ao perceber o seu olhar. Nesse momento, ela parou e olhou-me nos olhos onde pode ver o meu descontentamento. Em contrapartida, eu pude ver em seus olhos o constrangimento, porque na sequência ela olhou para o chão vendo a marcação do posicionamento para a fila. Ela se apercebeu que se havia posto diante de mim de forma equivocada. Pôs a mão em seu peito, fechou os olhos e de forma contrita se desculpou. No mesmo instante, a minha irritação amenizou. Pude entender que ela não havia feito por mal. Eu lhe disse:

– Fique à vontade… e lhe cedi a vez.

Ela me agradeceu e foi ao caixa. Na saída passou por mim para outra vez para pedir desculpas e dizer que assim ela poderia voltar mais rapidamente para casa e não deixar o seu marido, que está com Alzheimer, sozinho. Foi nesse momento que a minha irritação desapareceu de vez. O que se pode aprender com uma situação tão simples se a levamos para o ambiente organizacional? Quais as situações em que nos comportamos como juízes e algozes? Primeiro, julgamos muito rapidamente. Segundo, nem tudo é o que parece ser. É algo novo? Não, mas parece ser difícil de aprender. No instante em que a senhora se posicionou perto de mim, eu a julguei, condenei e dei um veredito a partir da minha perspectiva de mundo. Quais eram os fatos? Eu estava a espera para ir ao caixa no momento que uma senhora se posiciona um pouco à frente, ao meu lado. O meu diálogo interno não eram os fatos. Porém, a partir dele criei sentimentos que poderiam terminar em conflito, uma vez que entendia que a minha necessidade de ordem estava sendo desrespeitada. Desse modo, o que se poderia fazer? Talvez, deveria ter respirado fundo e contado até dez, segundo o ditado popular. Esse tempo permite que se avalie a situação; que não se desenvolva um diálogo interno negativo que gere sentimentos agressivos; e que se prepare para interagir apropriadamente. Aplicar isso no dia a dia organizacional ou no âmbito das relações pessoais fará com que muitos conflitos não ocorram, porque é a partir de nossos diálogos internos que muitas de nossas ações resultam. Aquilo que você pensa pode determinar aquilo que você faz. Apropriar-se do ciclo é essencial. É simples! É fácil? Não.

Enfim, mais uma vez constatei que nem tudo é como eu interpreto, assim como pude confirmar a máxima “Não julgue tão rapidamente”. Da mesma forma, na interação com a senhora pude observar que um gesto cortês pode gerar mais cortesia. E quem é o grande beneficiado ao ser cortês? É quem oferece cortesia, porque quando eu fui cortês recebi paz e tranquilidade. Mudou o meu dia, deixando-me a convicção de que podemos construir um mundo melhor.

Baseado numa experiência real

Moacir Rauber

Blog: www.facetas.com.br

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