Qual é a tua xícara?
O grande desafio são as pequenas coisas, como as manias, os chiliques e os descuidos para consigo e com os outros que acabam com muitos relacionamentos. Nas famílias aguentamos ou explodimos. Nas amizades toleramos. No trabalho explodimos ou aguentamos. Quase sempre é assim. A sala dos professores é um lugar em que se iniciam muitas guerras por pequenas coisas. Os escaninhos têm nomes, porém, o restante do espaço é compartilhado. O café é um espaço quase sagrado, porque é onde se diminui o estresse e a ansiedade e se aumenta a confiança e a sensação de controle. As xícaras são de uso comum, por isso a regra é “usou, lavou, guardou”. Deveria ser assim, mas nem sempre é assim. E aí começam os problemas. Uma professora notadamente organizada e cuidadosa, muitas vezes, se deparava com uma xícara suja na pia da sala. Quando queria tomar o seu café, olhava para a pia e lá estava a xícara, suja. Ela sabia quem era o responsável por essa falta de respeito e não aguentou. Assim, tirou uma foto com o seu celular e compartilhou no grupo dos professores com o comentário:
– Quem é o irresponsável que não sabe usar um espaço comum? Sujou lavou para que os outros possam usar. Incrível como tem gente sem noção!
Alguém já vivenciou alguma situação semelhante? Pode parecer caricato, mas é muito mais comum do que parece. Uma xícara suja, uma porta aberta, uma luz ligada ou os livros fora de ordem são as pequenas coisas que desencadeiam grandes problemas. O que fazer? Como enfrentar uma situação, aparentemente, simples sem deixá-la se transformar num problema? Pode ser simples, porém não sejamos simplistas. A situação pode ser complexa, entretanto não é necessariamente complicada. Quando a olhamos detalhadamente, ela traz todos os passos da Comunicação Não-Violenta de Marshall Rosenberg: a (1) observação do fato de encontrar a xícara suja gerou um (2) sentimento de raiva pelas (3) necessidades de ordem e respeito da professora que verbalizou o seu (4) pedido com a estratégia de reclamar no grupo virtual dos professores. Para Miriam Moreno (Facilitadora de CNV), é fundamental acrescentar um passo a mais, que é a capacidade de parar. Com esse movimento é possível observar sem julgar: o que estou vendo? Descrever aquilo que se vê de maneira que seria retratado por uma câmera fotográfica faz com que se tenha uma perspectiva isenta daquilo que se vê. O que estou sentindo? Identificar acuradamente o sentimento gerado com a consciência de que ele não é bom nem ruim, apenas indica que há uma necessidade atendida ou não. Quais as necessidades atendidas ou não nessa situação? Reconhecer quais as minhas necessidades e a do outro que podem estar envolvidas no fato observado. Por fim, o que vou pedir? Escolher qual a estratégia usar para atender as minhas necessidades que geraram um sentimento decorrente de um determinado fato. Enfim, entende-se que toda manifestação é uma estratégia, acertada ou não, de atender uma necessidade, reconhecida ou não, que gerou um sentimento, bem identificado ou não, a partir de um fato, adequadamente observado ou não. Desse modo, o ponto fundamental é entender qual a necessidade que quero atender e como ela se relaciona com a necessidade do outro para escolher a estratégia mais adequada. Tirar uma foto e compartilhar no grupo a xícara suja foi a melhor estratégia? Atendeu as necessidade de respeito e de ordem? Provavelmente, não. O que você faria?
Se nas famílias aguentamos, ainda que explodamos, nas amizades toleramos, ainda que nos incomodemos, no trabalho se aguentamos ou explodimos, rompemos. O que fazer? É preciso lembrar que uma xícara suja pode impedir que alguém tenha as suas necessidades de ordem e respeito atendidas, porém com a consciência de que o meu comportamento pode ser “a xícara suja” de alguém. Qual é a “tua xícara”?
Moacir Rauber
Blog: www.facetas.com.br
E-mail: mjrauber@gmail.com
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Inspirado por Miriam Moreno
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