Qual é o alimento da esperança?

Fazer silêncio com tantos elementos que nos distraem é um desafio. É o celular que toca, vibra e piscam as luzes pelas notificações. Há uma série que não quero perder. São reuniões de zoom que nos chamam. Além de ser possível sair de casa com certa normalidade em tempos de pandemia. Fazer silêncio como? Oração ou meditação quando? Complicado, mas ainda assim uma escolha. Por isso, resolvi fazer um retiro de silêncio para me escutar por meio da oração e da meditação. O grupo do retiro assumia o compromisso de não falar por uma semana. Teríamos um encontro diário com o mentor do retiro para alinhar os exercícios espirituais e as leituras orientadas. Na chegada ele fez uma reflexão:

– As crises de expectativa, a tristeza e as desilusões são reações emocionais a eventos que nos atingem. Por outro lado, manter viva a nossa esperança é uma decisão, um dom e uma habilidade que precisamos desenvolver. E a oração é precisamente a respiração da esperança!

Fiquei encantado com a reflexão, resultando numa alegria incontida de ter feito a escolha certa ao optar por alguns dias de silêncio. Terminada a interação com o mentor fomos jantar. Um espaço simples, uma comida básica e uma música de fundo sublime. A alegria que trazia no peito se transformava em satisfação, harmonizando o corpo, a mente e o espírito. Olhava para os meus companheiros que exibiam um semblante semelhante de paz. Um a um nos servimos e nos dirigimos a uma mesa compartida. O silêncio de palavras, o ruído dos talheres e o som da música durante a refeição nos fazia entender de que não precisamos muito para estarmos bem. Depois do jantar um espaço de oração e meditação do final do dia. O sono foi tranquilo. O despertar, seguido de nova meditação, igualmente foi sossegado. Dia após dia a oração e a meditação confirmavam as palavras do mentor do retiro no primeiro dia: elas eram a respiração da esperança. Respirar com consciência fazia com que a esperança fosse uma verdade interior. O retiro estava por terminar e o ruído interior recomeçava com a ansiedade sobre o que nos esperava fora do ambiente do retiro. O que fazer na volta ao dia a dia do mundo familiar, social e organizacional? Correr para acompanhar os outros? Parar não é possível e o movimento é um imperativo da vida. Assim, teria diante de mim algumas alternativas: (1) seguir com a consciência de que as crises de expectativa e a tristeza oriunda das comparações são criações nossas a partir dos estímulos do ambiente externo e mudar para não permitir que isso ocorra; ou (2) deixar-se levar pelo fluxo daqueles que competem com os outros indo para lugares que não se quer ir. Portanto, a consciência que nos é dada pela oração e meditação ao diminuir a ansiedade das expectativas ao não nos compararmos seria a escolha mais sábia, não a mais fácil.

Enfim, seja no ambiente familiar, social ou organizacional a oração e a meditação são essenciais para manter o foco naquilo que importa. Nas relações familiares os momentos dedicados a oração ou a meditação tendem a gerar a cumplicidade das relações amorosas. Nas relações sociais a oração e a meditação podem estimular o entendimento da importância do bem comum. E nas organizações a oração e a meditação vão permitir que cada colaborador entenda o sentido daquilo que faz mantendo o foco no que é importante fazer. Finalmente, ao parar numa oração ou diminuir o ritmo pela meditação se pode manter a esperança ao entender o sentido daquilo que se faz.

Moacir Rauber

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