Que cara de pau!!!

Procurava lugar para estacionar e um pouco mais a frente vi uma placa que identificava uma vaga para pessoas com deficiência. Estacionei e desliguei o carro. Peguei minha pasta com os documentos no banco ao lado e coloquei no painel em minha frente sobre o volante. Nesse momento vi que havia um homem ao lado da minha porta esbravejando. Gesticulava muito. Parecia irritadíssimo. Mesmo sem olhar comecei a procurar entender o que estava dizendo. Pude escutar:

– É muita cara de pau. Essa vaga tem dono. Só porque está engravatado acha que pode tudo…

No primeiro instante não havia entendido o motivo de tanto irritação por parte daquele senhor. Ele deveria ter lá seus oitenta anos. Fiquei até um pouco receoso que pudesse ser um maluco, mas logo me dei conta  do que estava acontecendo. Comecei a me movimentar para pegar a minha cadeira de rodas que estava desmontada na parte de trás do assento do caroneiro e comecei a encaixar as suas partes. Saí do carro. O senhor do lado de fora deu dois passos para trás e a sua cara não negava o espanto. Ajeitei as minhas roupas, a gravata e peguei a minha pasta. Olhei para aquele senhor que tentava falar algo:

– Bem… Uh… Não sabia…

Em seguida falou:

– Olha, o senhor me desculpe… É que eu fico aqui olhando e o pessoal que estaciona aqui não tem nada (deficiência…). Quando falo alguma coisa eles ainda dão risada e me insultam…

A situação tem diferentes análises, mas quero comentar sobre os julgamentos rápidos que nós normalmente fazemos quando pensamos que entendemos o que está acontecendo. Isso ocorre quando usamos o passado para nos fundamentar em ações presentes ou mesmo nos estereótipos que carregamos em nossos modelos mentais. No programa de formação em coaching tem um ferramenta denominada Escada de Inferências que foi trabalhada pelo Prof. “Bob” Hirsch (http://opusinstituto.com.br/) com maestria. Trata-se das ações que tomamos baseadas em julgamentos que fazemos a partir da visão, muitas vezes, limitada de uma situação. Como no caso relatado, aquele senhor se baseou na observação de algo que ocorria, escolheu alguns elementos, relacionou-os com outros acontecimentos semelhantes registrados em sua base de dados, articulou-os entre si e fez um julgamento. Fez as suas associações, elaborou uma proposta e partiu para ação. Esse processo ocorreu nos instantes em que ele levou entre observar o carro e partir para os insultos. Poderia se dizer que o senhor pegou o “elevador” e não usou a escada de inferências, porque suprimiu etapas. Não observou tão atentamente como imaginara, porque se ele o tivesse feito teria visto que o meu carro tem um adesivo do símbolo universal da acessibilidade que identifica usuários com deficiência. Assim, a seleção dos dados usados para articular com outros já registrados em sua memória foram insuficientes, prejudicando todo o percurso de raciocínio que nos leva aos julgamentos que fundamentam as nossas ações. Tivesse aquele senhor dado um passo atrás, ampliado o seu campo de visão, percorrido todos os degraus previstos na escada de inferência, certamente a sua ação teria sido outra. Não teria pagado o mico de ter que se desculpar, mesmo tendo procurado fazer a coisa certa.

Desse modo, antes de insultar alguém ou de reagir agressivamente frente a uma situação que julgo ser um fato, faça uma PAUSA. Observe sem julgar. Dê um passo atrás, amplie sua visão, rearticule o dados, analise e proponha uma ação condizente com a situação. Provavelmente vai te cair  queixo com o número de vezes que as nossas ações se baseiam em interpretações da realidade e não na realidade. Nem todo mundo é cara de pau!

Moacir Rauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com Home: www.olhemaisumavez.com.br

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