Só o tutorial não basta!
Escutava as instruções do coordenador do retiro. Era um retiro de silencia, mas no final do dia tinha um momento de interação. Ele falava da importância dos exercícios mentais, conduzia dinâmicas de meditação e explorava técnicas para que cada um pudesse assumir o controle da própria mente. Reforçava que a mente nos mente e pode nos levar para lugares que não queremos ir. O coordenador ressaltava a importância de fazer as leituras orientadas e os exercícios programados para o dia seguinte, sob pena de apenas conhecer o conteúdo sem nos beneficiarmos da atividade. Por fim, ele disse:
– Muitas pessoas conhecem os tutoriais das aulas virtuais de atividades físicas, mas não fazem o exercício. De nada serve. A analogia se aplica para a mente…
Faz sentido. Ler os melhores livros sobre os benefícios da meditação ou da atenção plena e não praticar é similar a assistir aos tutoriais das academias de educação física sem fazer o exercício. Depois do tutorial é preciso fazer a atividade. Porém, muitas vezes, a preguiça vence e a pessoa fica no tutorial. A nossa mente, igualmente, precisa por em prática o conhecimento adquirido nas leituras, nos seminários e nos retiros para incorporar hábitos e comportamentos desejados. A reflexão do coordenador seguia no ritmo do retiro e ele se aprofundava em temas para que cada um se responsabilizasse pelas suas escolhas. Estar no ambiente que estávamos, com o dia todo voltado para as leituras e a meditação, fazia com que fosse relativamente fácil manter uma rotina com as suas práticas. Ainda assim, quase todos caíamos na tentação de não seguir o programa do silêncio e de não fazer todas as atividades propostas. Faltava-nos a disciplina para exercer a escolha feita. Portanto, imagine o tamanho do desafio de levar a prática proposta para o dia a dia. Como faríamos os nossos exercícios de meditação no mundo real? O que fazer para incluir uma prática de mindfulness nas 24h que cada um tem, as quais, muitas vezes, não bastam para as atividades correntes? Caso pensemos no antônimo da preguiça chegamos ao workaholic, o sujeito que não se cansa de sempre fazer mais. Notadamente a proposta dos retiros, da meditação e da atenção plena não é essa. Os extremos não são o caminho. Se de um lado está a preguiça e de outro lado o excesso de trabalho, entre eles nós encontramos a diligência, o equilíbrio. A diligência se refere a fazer aquilo que se escolheu fazer com cuidado, interesse e zelo por si e pelos outros, com a urgência e a presteza necessárias. Para ser diligente é preciso discernimento, a capacidade de avaliar as situações com o bom senso e a clareza necessárias para fazer uma boa escolha. Manter-se em movimento ao renegar a preguiça sem comprometer a sua busca de equilíbrio e harmonia pelo excesso de atividade. É o equilíbrio que leva a pessoa à harmonia. Provavelmente, ao incluir um período de meditação ou de prática de mindfulness no seu dia a dia será necessário deixar algo para trás. Inicialmente poderá parecer difícil fazer a escolha, porém com a prática o menos será mais. Menos estresse e mais resultados. Menos trabalho e mais produtividade. Menos horas e mais conteúdo. Menos aflição e mais fruição.
Por fim, o coordenador disse que a preguiça é parte da natureza humana. Por isso, lembrei-me de um conselho de um empreendedor que dizia: “Preste atenção no preguiçoso. Quando ele procura um atalho vai ter mais trabalho. Muitas vezes, porém, ele usa a sua inteligência para propor uma solução que economiza recursos e esforços!”. Eis o ponto. Ficar somente no tutorial não basta. Depois da ideia é fundamental a atividade. É preciso ter o discernimento para agir com diligência e fazer o que deve ser feito.
Moacir Rauber
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