Você serve ou se serve?

O mundo organizacional é fonte de inspiração daquilo que se deve fazer em muitas áreas. Quase sempre, os recursos são bem utilizados e as iniciativas contam com a colaboração e a cooperação dos integrantes das organizações. Porém, nem sempre é assim. Muitas vezes, a ética desaparece num movimento egoísta de usar o outro para os interesses próprios, refletido nas buscas por se relacionar com as pessoas “certas”. Houve uma situação que evidenciou essa realidade. Conversava com uma pessoa que havia feito uma carreira organizacional na área de treinamento e desenvolvimento no ambiente interno e ela, recentemente, havia deixado a organização para iniciar a sua jornada solo. Traçou como objetivo criar uma empresa que seria reconhecida em todo país, abordando temas ligados à liderança. Numa conversa espontânea num café, essa pessoa afirmou:

– Eu quero ter alcance nacional! Vou me aproximar de cada pessoa que possa me acercar ao objetivo. É a minha meta!!!

A declaração foi franca, sem mostrar nenhum sinal de alguma incongruência ética. Creio que criar uma organização com a pretensão de ter alcance nacional parece justo e importante. Entretanto, a estratégia gerou incomodidade em mim, porque escutei que ela se aproximaria de quem a levasse a alcançar o seu objetivo, num movimento egoísta de usar as pessoas. A partir dessa interpretação, perguntei-me: qual a contribuição real de alguém que se serve das pessoas para alcançar os seus objetivos? Particularmente, acredito que nossa principal fonte de realização deveria estar no ato de servir às pessoas e não em se servir delas. E isso se aplica ao indivíduo e às organizações. O indivíduo, ao integrar uma organização familiar, social ou empresarial, deve, de alguma forma, servi-la. Por isso, pergunto: a tua família é melhor com a tua presença? A sociedade é melhor com a tua participação? A empresa é melhor com o teu trabalho? Se sim, você está cumprindo com o papel de ser um Ser Humano que serve às pessoas. Se essas organizações não forem melhores com a tua existência, por que você está nelas? Trata-se de uma lógica de serviço em que as pessoas servem as pessoas e, consequentemente, às organizações. Com esse olhar, igualmente, as organizações servem às pessoas. Portanto, a família, a sociedade e a empresa, reciprocamente, devem oferecer condições para que você seja melhor ao integrá-las. Se não for assim, para que elas existem? Uma organização que não estimular a que seus integrantes sejam melhores ao estarem nelas não deveria existir. Por isso, a reciprocidade das relações elimina o utilitarismo das pessoas.

A pessoa lá do início do texto já não está próxima a mim, mas segue a sua jornada em busca do alcance nacional. Talvez tenha se afastado porque já não lhe sirva mais. Não lamento. O fato somente reforça a crença de que “se não vivemos para servir não servimos para viver” (Madre Teresa de Calcutá). Ela, num de seus dias de serviço, ouviu de um senhor que ele não faria o que ela faz por dinheiro nenhum. Ele obteve a resposta: “Nem eu…”. Ela sempre viveu para servir, tornando-se um exemplo de liderança. Um dos grandes sucessos literários do início do Século XXI, O Monge e o Executivo, resgata a importância de servir aos demais, principalmente no papel de líder. Se não for para servir, para que liderar? Desse modo, entendo que a liderança, política ou organizacional, deve cumprir com os significados de servir, ao trabalhar em favor, cuidar, produzir proveito ou benefício para alguém. Mais do que isso, a liderança deve servir no sentido de ser útil, conveniente ou adequado para os outros, cumprindo com à sua finalidade. Desse modo, acredito que nós como pessoas devemos servir aos outros, porque assim seremos servidos.

E você, serve às pessoas ou se serve delas? E a sua organização serve para servir?

Moacir Rauber

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