Parceria entre Itaipu e instituições permite que onça-parda atropelada volte à natureza no Paraná
Animal retorna à liberdade total após dois anos e nove meses em cativeiro para processo de reabilitação. Experiência poderá ser replicada em outras instituições do Brasil.
A equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em parceria com a Itaipu Binacional, Instituto Água e Terra (IAT) e com o Instituto Giovanna e Licínio Machado de Biodiversidade (IGLMBio), devolveu à natureza, na última sexta-feira (22), uma onça-parda que estava em cativeiro desde julho de 2019, quando foi atropelada em uma rodovia no Oeste do Paraná.
A história, que poderia terminar como um número em uma triste estatística, teve um final feliz. Após cuidados médicos no Refúgio Bela Vista da Itaipu (RBV) e um período de aclimatação em um recinto em uma propriedade rural privada, o animal, apelidado de Leôncio, volta à mata, num ato simbólico de como o poder público e iniciativas privadas, trabalhando juntos, podem ajudar na conservação da biodiversidade.
“O Leôncio é o resultado da mão de cada um que está aqui hoje, de cada parceiro, de cada instituição”, disse o médico veterinário do Refúgio Biológico de Itaipu, Pedro Henrique Teles.
A ajuda, no caso de Leôncio, veio de várias frentes, inclusive de produtores rurais da região, que hospedaram o animal temporariamente. Segundo Giovanna Machado, presidente do IGLMBio, esse tipo e ação não gera conflito – pelo contrário, traz uma série de benefícios. “O resultado é a longo prazo.”
O monitoramento com câmeras, durante a permanência de Leôncio, detectou outras quatro onças-pardas na área da fazenda. “Nos mais de 70 anos em que a família gerencia a propriedade, nunca tivemos um ataque de onça, nem ao rebanho e nem aos animais menores, como animais de estimação ou galinhas. Isso porque a onça já tem, no ambiente preservado, uma biodiversidade significativa, que supre as necessidades dela. A convivência é possível”, garante Giovanna.
Segundo o gerente da Regional Sul do ICMBio, Isaac Simão Neto, “a missão institucional do ICMBio precisa dessa colaboração de toda a sociedade”. Parcerias como a que foi desenvolvida pelo Leôncio são fundamentais para a conservação. “Para nós, é um orgulho estar participando disso”, completou Isaac.
Trajetória
Leôncio chegou ao RBV de Itaipu inconsciente e em estado crítico. Estava em coma, não conseguia abrir a boca nem o olho, e já tinha passado quase oito horas na viatura da Polícia Ambiental. No Hospital, recebeu tratamento de emergência, atendido não só pela equipe da Itaipu, mas também por profissionais especialistas da UFPR – Campus Palotina, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) e do Projeto Onças do Iguaçu.
“Ele tinha uma fratura muito grave de fêmur, então pensamos: ‘vamos fazer eutanásia ou dar uma segunda chance para ele?’”, lembrou Pedro Teles. “Ainda não sabíamos se teríamos os parceiros para isso, mas felizmente conseguimos muitos parceiros. Hoje ele tem uma placa, um pino e 16 parafusos na perna, mas sobe e desce de árvores perfeitamente”, completou.
Após os cuidados veterinários intensivos, Leôncio ficou durante seis meses em um “Recinto de Aclimatação”. O espaço de 850m², instalado em meio a ambientes naturais de fácil acesso e logística, foi erguido de forma simples e com materiais de baixo custo, para que pudesse ser reproduzido facilmente. “Futuramente, as etapas e o aprendizado com este procedimento de devolução à natureza de um animal deste porte poderão ser replicados por outras instituições”, afirmou Teles.
Leôncio foi solto em uma área com características semelhantes à que ele foi encontrado originalmente, o que deve permitir uma boa adaptação. Ele será monitorado pelo ICMBio e pelo Projeto Onças do Iguaçu, por meio de um colar GPS/VHF, para que os especialistas possam compreender como funcionará a sua readaptação ao habitat natural.
Para a autorização de soltura, o animal passou por uma última avaliação entre os técnicos do ICMBio e da Itaipu Binacional e foi considerado apto ao retorno à natureza devido ao seu porte físico e comportamento nitidamente selvagem.
“Realizamos toda a análise clínica e sanitária do animal para constatar que de fato ele está apto a ser solto na natureza e conseguir sobreviver sozinho. Ele se mostrou pronto e com capacidade total de procurar sua própria comida”, destacou a chefe do Setor de Fauna do IAT, a bióloga Paula Vidolin.
A escolha do local onde ele foi solto também é importante, porque é um local de conectividade entre o Parque Nacional do Iguaçu e as áreas protegidas da Itaipu. “É muito fácil soltar um animal em uma área totalmente preservada e ele sobreviver. Agora, estamos soltando em um lugar em que ele vai encontrar problemas, e vai ter que aprender a resolver. Mas estaremos acompanhando”, finalizou Teles.
Soltura
O evento de soltura do animal foi acompanhado pelo diretor-geral brasileiro da Itaipu, Anatalicio Risden Junior, e o diretor de Coordenação, Luiz Felipe Carbonell; o superintendente de Gestão Ambiental da Itaipu, Ariel Scheffer da Silva; o casal Licínio e Giovanna Machado, fundadores do IGLMBio; a chefe do Parque Nacional do Iguaçu, Cibele Munhoz Amato; o coordenador do Cenap, Ronaldo Gonçalves Moratto; e a coordenadora executiva do Projeto Onças do Iguaçu, Yara Barros, além dos técnicos que acompanharam Leôncio durante sua recuperação.