Com 200 milhões de mulheres afetadas do mundo, endometriose é debatida em audiência e vira tema de projeto de lei

Uma doença que atinge cerca de sete milhões de mulheres no Brasil, 200 milhões no mundo e reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um problema de saúde pública. A endometriose foi foco de uma Audiência Pública reunindo especialistas na Assembleia Legislativa do Paraná nesta segunda-feira (4) para trazer informação sobre tratamentos e prevenção, tanto para as mulheres como para a sociedade.

“Nós, como representantes da população, sabemos da importância de abordar esse tema. Muitas mulheres têm sofrido com a endometriose. Eu faço parte dos 10% de mulheres que sofrem com essa doença. Este assunto deve ser mais discutido e a casa do povo, onde são feitas as leis, é um lugar ideal para isso”, afirmou a deputada Flávia Francischini (União). Proponente do debate e também autora do projeto lei 523/2023, que traz diretrizes para políticas de saúde pública com o tema “Endometriose em trauma”.

“O objetivo é divulgar ações preventivas e terapêuticas, a conscientização e, inclusive, o incentivo às empresas que concederem trabalho remoto à mulher que estiver em crise. E é com a ajuda desses profissionais e com o debate como o de hoje que podemos construir uma legislação forte para amparar as mulheres”, explicou a parlamentar.

“As pessoas precisam entender que não é frescura, é uma doença séria”, reforçou a Procuradora da Mulher da Assembleia Legislativa do Paraná, deputada Cloara Pinheiro (PSD).

Ginecologista, especialista cirurgia minimamente invasiva e chefe da Divisão de Atenção da Mulher da Secretaria de Estados da Saúde (Sesa), o médico Willian Kondo explicou que a endometriose é uma doença ginecológica caracterizada pela presença de células uterinas que se desenvolvem fora do útero.

“Muitas mulheres padecem, por desconhecer a doença e o tratamento. A incidência é relativamente alta, de 10 a 15 % das mulheres em idade reprodutiva, que dá em torno de 6 a 8 milhões mulheres no Brasil. São cerca de 200 milhões no mundo”, citou o médico.

Segundo Kondo, entre os principais sintomas estão a dor e a dificuldade de engravidar. Pode, ainda, haver o comprometimento de vários órgãos e levar a complicações em estruturas não ginecológicas. “Algumas mulheres só vão descobrir quando começam a tentar engravidar. Mesmo que a endometriose não seja a causa principal da infertilidade, de 30% a 50% dessas mulheres com dificuldade de engravidar vão ter endometrioses”, acrescentou.

A diretora da Secretaria Estadual da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa, Mariana de Sousa Machado Neris, representou a secretária Leandre Dal Ponte no evento. “A Secretaria amplia o diálogo e traz apoio do Governo para construir em conjunto com aqueles que estão há muitos anos nesta pauta da endometriose. Não basta só identificar, é preciso a educação e também ofertar o tratamento. Nosso papel é fortalecer as políticas públicas nos direitos das mulheres, dar nosso apoio a esse problema.”

Ela ainda citou o impacto da doença além da saúde feminina. “É um problema de toda a sociedade, para aquela mulher, para a família, interfere na questão profissional. Um estudo da Universidade do Pará indica ainda o aumento proporcional de divórcios para mulheres que têm essa doença, por afetar o relacionamento. Por isso o encaminhamento desta audiência deve ser a informação”, apontou.

“Endometriose é uma doença que acomete uma em cada dez meninas. O tempo médio de diagnóstico era em torno de longos oito anos. Ainda demora. Isso por falta de preparação, especialização, de profissionais médicos qualificados. Para mudar isso, ações como essa audiência são muito importantes, debatendo e orientando sobre o tema. Para um diagnóstico precoce é preciso o conhecimento do profissional. Não se começa com um exame de imagem, começa com a clínica da paciente, do médico ginecologista e do médico pediatra”, ponderou o coordenador da área de diagnóstico por imagem do Hospital Nossa Senhora das Graças e Hospital das Nações, radiologista Carlos Henrique Trippia.

A nutricionista especializada em Saúde da Mulher, Aline Todesco, alertou sobre os reflexos da alimentação no enfrentamento da doença. “O estilo de vida está totalmente relacionado ao controle da doença e a alimentação pode ajudar nesta parte anti-inflamatória. A rotina das pessoas de ter uma vida mais prática acaba prejudicando, pelo consumo de alimentos mais industrializado. São alimentos que contém muito açúcar, corante, conservante e isso aumenta a endometriose, que é uma doença que não tem cura, mas tem controle”, afirmou.

De acordo com a especialista, podem piorar o quadro da endometriose o consumo de açúcar, glúten, carne vermelha e álcool, além do tabagismo, exposição aos agrotóxicos, sobrepeso/obesidade e função intestinal prejudicada.

Hoje no Paraná, 438 pacientes recebem tratamento via medicação através do Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com a enfermeira obstetra e chefe da Divisão de Atenção à Saúde da Mulher da Secretaria de Saúde, Carolina Bolfe Poliquesi. “O acesso começa pelas Unidades Básicas de Saúde e, dependendo da complexidade, são feitos os encaminhamentos que podem chegar até a cirurgia”, disse.

A gestora pública Débora Carvalho, contou um pouco da sua trajetória de mais de uma década até o diagnóstico da endometriose. “Eu tinha muitas cólicas e fluxo muito intenso, e sabia que tinha algo de anormal desde os meus 16 anos, que prejudicada a rotina, o trabalho. Apesar de ter acesso a médicos particulares, só fui diagnóstica aos 28 anos. E, em apenas três meses de tratamento, minha qualidade de vida melhorou 98%. Mas quantas mulheres continuam sofrendo”, acrescentou.

Da ALEP

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