Com 8% da população com duas doses, SP decide vacinar apenas os moradores
Um levantamento feito pelo Estadão com base nos dados do Ministério da Saúde mostra que 17% do total de doses aplicadas em São Paulo atenderam pessoas de fora da cidade. Foram 4 milhões de doses aplicadas (entre primeiras e segundas doses) e 686 mil acabaram no braço de pessoas que vivem em outros municípios que não a capital paulista. A Prefeitura não culpou esse “desvio” pela porcentagem atual de imunizados, mas ponderou que era a única cidade até hoje que não fazia a exigência do comprovante.
“Daqui para a frente, os grupos prioritários que serão vacinados têm grande quantidade de pessoas. A partir de amanhã serão mais de 200 mil. A faixa etária está diminuindo progressivamente, são pessoas que, diferentemente de idosos, se deslocam com maior facilidade. Portanto, é natural que a cidade de São Paulo, que tem uma estrutura de vacinação muito grande, atraia pessoas que se desloquem para cá”, disse em nota o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido.
Novos grupos serão incluídos na lista de vacinação a partir de hoje. Estudantes do último ano de cursos da área da saúde e trabalhadores da saúde acima de 18 anos podem se vacinar na cidade. A vacinação de pessoas com comorbidades e com deficiência permanente cadastradas no Benefício de Prestação Continuada (BPC) será ampliada e passará a abranger todos que têm mais de 40 anos. Caso o comprovante de residência exigido esteja no nome de algum parente, disse a Prefeitura, haverá a necessidade de demonstrar o grau de parentesco. Para aquelas pessoas que já tomaram a primeira dose, não haverá a exigência do documento para a segunda.
Ranking
Entre as 645 cidades do Estado, a capital ocupa a 393.ª posição no ranking da vacinação completa. As cidades do topo da lista são as com a menor população. Em Flora Rica, que tem 1.430 habitantes, metade dos moradores já recebeu as duas doses da vacina contra a covid. Entre as maiores cidades do Estado, com mais de 400 mil habitantes, São José dos Campos apresenta o melhor índice, com 24,42% dos moradores vacinados com a primeira dose. Santos lidera o ranking de aplicação da segunda dose, com 11,2% dos moradores imunizados.
Especialistas apontaram que a exigência do comprovante de residência criada em São Paulo pode impor um empecilho para o acesso à vacinação contra a covid-19, além de ser facilmente burlável e poder desfavorecer uma parcela dos residentes na metrópole. “Se a pessoa estiver dentro do grupo alvo, acho que não importa onde ela mora. Isso é um fator que vai desincentivar e dificultar a vacinação, principalmente para quem mora em outra cidade e passa o dia trabalhando em São Paulo”, avalia Monica Levi, presidente da Comissão de Revisão de Calendários de Vacinação da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Para o epidemiologista José Cassio de Moraes, ex-diretor do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo e responsável por campanhas de vacinação desde 1975, o esforço seria melhor empregado na divulgação da imunização. O foco, aponta, deveria ser nas populações com comorbidades, que é onde ele avalia que está o maior ruído. “Que o ritmo está lento não precisa nem dizer. Uma parte é porque não tem vacina, mas o problema é que quem divulga a vacinação é só a imprensa. Uma parte das redes sociais até divulga, mas a maioria cria fake news. Quem tem como fonte de informação as redes sociais não recebe uma posição governamental, e sim propagandas contra a vacina”, avalia.
Walter Cintra, sanitarista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), defende que “é preciso ter um controle de garantia para que a pessoa tome a segunda dose”. “De um modo geral, o País está apanhando feio do coronavírus. São Paulo não está em situação melhor”, observa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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