Com mais tempo em casa, adoradores de café buscaram aprimorar o preparo
Quando montou seu apartamento, Maycon Alves, 40 anos, não teve nenhuma dúvida em dispensar a churrasqueira e transformar a varanda em uma estação dedicada ao café. Aos poucos, foi equipando o espaço com máquinas, acessórios e métodos de preparo – transformando esse cantinho da casa em uma verdadeira cafeteria. “Não era comum esse ‘cantinho do café’, mas essa ideia da varanda é funcional. É ótimo para receber amigos. Ou, agora na pandemia, tomar sozinho o meu café”, disse.
Alves começou o seu relacionamento com o café de forma atribulada. Como gerente de vendas, durante a visita a um cliente, disse ‘não’ ao cafezinho e preferiu um copo d’água. “Meu gerente ficou bravo. A partir daí, comecei a me interessar e experimentar cafés especiais.”
O técnico em informática Marcos Shiguematsu, 49 anos, toma café desde criança, mas passou a se aprofundar no assunto de tanto visitar cafeterias em viagens de trabalho pelo interior de São Paulo. “Em casa, tudo começou quando comprei minha primeira máquina de cápsula (para café expresso) e percebi os sabores diferentes.”
Aos poucos, Shiguematsu foi mergulhando nesse universo e adquirindo acessórios e métodos diferentes de preparo, como um moedor de grãos de café, chaleiras, uma Hario V60 e outros métodos (veja glossário ao lado). “O mundo do café não tem limites. Você pode gastar bastante, mas também pode começar fazendo um ótimo café usando filtros Melitta e gastando R$ 5. O mais importante é usar um café especial de qualidade”, ensina.
O amor pelo café leva seus seguidores para longe. Sempre que sai de férias, o personal Trainer Rafael Café, 41 anos (sim, ele tem café no próprio nome), decide o seu roteiro a partir das cafeterias que pode conhecer. Assim, já fez viagens para tomar café em Nova York, Buenos Aires, Chile e outros. “Moro no ABC, no começo saía daqui e ia aos sábados no Coffe Lab, em Pinheiros, para tomar café, conversar com baristas e aprender o máximo que eu podia.”
Outro coffee lover que foi longe por amor ao café é o coordenador de projetos Márcio Suzaki, 40 anos. Ele visitou, por exemplo, fazendas de café no Cerrado Mineiro. “Em um período de safra, trabalhei quatro dias em uma fazenda. Sem salário, só comida e lugar para ficar. Colhi café, fiz uma imersão na cata, na torra… Sempre quis conhecer o que estava por trás do café que eu bebo.”
A barista, torrefadora de café e produtora de conteúdo Maíra Teixeira lembrou que a pandemia fez com que as pessoas passassem a consumir mais café especial em casa, e que, como consequência, surgisse uma busca por conhecimento e qualidade no mundo do café. “São dois tipos de consumidores: aquele que já tinha um conhecimento e partiu para a busca de conteúdos avançados para reproduzir em casa; e aquele iniciante que entendeu que, além do consumo tradicional, existem outras experiências possíveis.”
Maíra aponta três passos para quem quer ter uma experiência melhor em casa: “O primeiro é escolher um bom café, com controle de torra, com grãos mais selecionados. Não precisa ser algo caro. Já é possível encontrar café de qualidade com preço acessível. Depois, para preparar um bom café, tenha cuidado com a água. A de pia não é legal. A água deve ser fervida. Por fim, ter cuidado com a proporção de pó em relação à água”, enumera.
O caminho de muitos amantes do café é a profissionalização. É o caso de Thaísa Artioli, 37 anos. O café está em seu DNA. “Meu avô materno tinha uma fazenda de café em Lençóis Paulista, no interior de São Paulo. Minha avó, que ajudou a me criar, tinha toda essa cultura, vi muitos álbuns de fotografia com ela. E foi com ela que aprendi a tomar café de manhã e de tarde. Sempre foi uma coisa afetiva mesmo”, recorda.
Em 2010, Thaísa começou a frequentar cafeterias e se apaixonar pelo trabalho dos baristas. Designer por formação, fez o primeiro curso por curiosidade. “Foi um curso no Senac que mudou a minha vida. Fui me aprofundando no assunto e me profissionalizei. Iria começar a trabalhar em uma cafeteria quando a pandemia começou.”
O barista Murilo Seneghini, 33 anos, lembra que o café é uma forma de hospitalidade: “A gente toma café pela manhã, prepara no fim da tarde, come com um bolinho. É totalmente uma forma de hospitalidade. O café está com a gente todos os dias.”
Já o também barista Renato Cipriani, 33 anos, tem como background sua formação em química. Ele costuma dizer que o mundo do café e da química são muito próximos. “Quando aprendi sobre a torra do café, percebi como esses mundos se encontram”, disse Cipriani, que também costuma brincar com uma das polêmicas mais antigas da área: o uso do açúcar no cafezinho. “Essa história da adição de açúcar no cafezinho, deixa muito barista na defensiva. Já tenho uma frase pronta: ‘Se você colocar no seu copo, sem problema. Só não coloque no meu’.”
Diretora de conteúdo da Semana Internacional de Café (SIC), Mariana Proença afirma que o aumento de procura e busca pela qualidade do consumo doméstico é visível durante a pandemia. “Há um investimento do consumidor em café, como já acontece com a cerveja e o vinho. É perceptível que o consumidor está mais próximo do conceito de café especial e tem buscado saber quem são os produtores e de quais regiões vem é o café que ele está consumindo”, observa.
Segundo Mariana, o café, em seu formato mais tradicional, está presente na casa de 97% dos brasileiros. “Temos dados que, durante a pandemia, o e-commerce relacionado ao café cresceu 30%.”
Fábio Luís Cambraia Pereira, proprietário da cafeteria Urbe, conta que, daqui pra frente, não basta a cafeteria cuidar do consumo na loja. “Tem que ter e-commerce, venda por aplicativo e investir no boca a boca. Eu mesmo faço panfletagem no bairro, entrego na casa das pessoas. Mesmo na pandemia, você não pode deixar que o consumidor se esqueça de você. Aliás, hoje, esse é um consumidor que entende muito daquilo que ele está consumindo.”
Diretor de Marketing da Nespresso, Marcos Djinishian afirma que o Brasil é o maior consumidor “dentro do lar” do mundo. “O aspecto emocional e de aconchego é muito grande. Mas, quando a gente chegou, era um mercado de café preto ou de café com leite. Hoje, temos mais de 30 itens da linha regular, mais as novidades que trazemos todos os meses.”
Para a embaixadora de marca da Nespresso, Daniela Santos, muita gente começou o seu cantinho do café com uma máquina de cápsula. “É a entrada para esse mundo. É descolada, tem tecnologia. E hoje os acessórios permitem uma experiência de barista, com a possibilidade de trabalhar espumas, usar vaporizadores.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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