Dois palhaços constroem o próprio teatro em SP
O local vai funcionar como um polo para grupos e artistas que não conseguem facilmente um lugar para apresentações ou ensaios. Além de receber espetáculos, vai sediar oficinas e workshops da Conforto & Cia., a trupe de palhaçaria dos sócios Kayê Conforto e Henrique Caponero (Conforto e Heitor, respectivamente), além de outras companhias, grupos ou artistas solo. É como pretendem manter o espaço. Mas a história não começa assim
Era uma vez…
Há nove anos, Kayê e Henrique começaram a trilhar um caminho juntos na Conforto & Cia., a partir de um voo solo de Conforto, o espetáculo Desconforto: Um Espetáculo de Mágicas Clownescas. “Eu sou Conforto e ele é o cia.”, brinca Kayê: “Henrique estava concluindo uma pós-graduação em direção teatral e estava na plateia na estreia. Depois, ele me mandou uma mensagem dizendo que queria me ajudar no espetáculo”.
Aos poucos, Henrique começou a fazer parte, primeiro na direção, depois com algumas inserções de voz. Finalmente, as participações se tornaram parte do texto oficial, transformando o solo no que eles chamam agora de “um solo e meio”.
Com a companhia, eles passaram a se apresentar em inúmeros locais: teatros, salas, na rua E o sonho de ter um teatro começou a ser gestado. “Muitas vezes, viajando, a gente planejava como seria ter nosso próprio espaço”, diz Kaye.
Em 2020, eles experimentaram uma prévia disso. Com edital aprovado na Lei Aldir Blanc, a companhia criou um palco itinerante em uma Kombi reformada. “Foi uma forma de fazer apresentações durante a pandemia”, explica. Com Adelaide, nome da Kombi, eles conseguiram se apresentar em vários espaços apesar das restrições da pandemia, só por terem um palco itinerante.
Depois de comprarem Adelaide, o dinheiro não dava para bancar toda a reforma. Então, Kayê e Henrique decidiram colocar a mão na massa. “Terceirizamos o estofamento e contratamos um mecânico, mas o resto foi todo feito por nós”, lembra. Foi aí que adquiriram experiência e toparam o desafio de montar um teatro.
Palhaços à obra
Após uma pesquisa e muitas trocas de mensagens, Kayê e Henrique descobriram uma sala na Lapa com um quarto nos fundos. “Quando saímos da visita, mandei a proposta para a imobiliária, sem nem perguntar ao Henrique”, diz Kayê. A agilidade foi o que garantiu o aluguel. Outra pessoa também tinha feito uma proposta para transformar o agora teatro em uma oficina de motos.
Depois do contrato firmado, veio a obra. “A reforma começou com o pressuposto de que a gente não tinha dinheiro para pagar mão de obra”, conta Kayê. “Entramos aqui percebendo que teríamos de fazer tudo”.
Os dois, então, colocaram a mão na massa: pintaram paredes, compraram e instalaram pisos, fizeram a elétrica do espaço (Kayê já trabalhou em uma loja especializada), construíram uma porta antirruído, compraram poltronas usadas, reformaram e estofaram. E usaram materiais que já tinham, como cortinas do palco.
Os dois também contaram com doações como de uma ribalta, um ar-condicionado, uma porta que virou um balcão. “A gente recebeu muito apoio da classe, de amigos, de pessoas que viram nossa vontade de fazer esse espaço como possibilidade de fomento à arte e resistência artística”, diz Henrique. A dupla também destaca que, mesmo sem o teatro ainda ter sido aberto, a vizinhança já começa a notar mais um espaço artístico no bairro, o que gera burburinho e curiosidade. Ponto a favor da arte.
Próximos passos
Henrique lembra que, durante as idas e vindas com Adelaide para os espetáculos, as conversas com Kayê eram recheadas de vários “e quando?”. “Antes da Kombi, a gente falava: ‘quando a gente tiver a Kombi’. Depois dela, a conversa passou a ser: ‘quando a gente tiver nosso espaço'”, conta. “Aí eu pergunto para ele: qual vai ser o próximo passo?”, brinca. “Nossa turnê internacional”, responde o sócio.
Enquanto a turnê não vem, a inauguração do espaço acontecerá em 13 de fevereiro, às 16h, com uma programação de esquetes, seguido de uma sessão de Desconforto: Um Espetáculo de Mágicas Clownescas. Para os próximos meses, eles planejam oficinas e espetáculos e devem abrir agenda para outros artistas que tenham interesse em usar o local. “É a realização de um sonho”, diz Kayê. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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