Estudo inédito acha microplástico em pulmão humano
“Pela primeira vez no Brasil constatamos a presença de microplástico em pulmão humano”, afirmou Amato ao Estadão. O cientista, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo – Programa USP Cidades Globais, doutor em ciências pelo Departamento de Patologia da FMUSP, contou que foram analisadas amostras de 20 tecidos pulmonares, das quais 13 peças continham resíduos de microplásticos. A contaminação dos pulmões ocorreu por inalação. O trabalho foi desenvolvido pelo Instituto de Química e pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP em parceria com a Faculdade de Medicina.
As análises foram feitas e concluídas ainda antes do período da pandemia, obedecendo a rígido controle de processo de análises em laboratório com filtros ambientais que permitem afirmar, segundo o pesquisador, que não houve contaminação externa das amostras estudadas. “O controle no processo de laboratório foi uma das preocupações da pesquisa”, explicou Amato. Segundo ele, o trabalho teve filtros ambientais no laboratório, posteriormente checados e analisados, para que pudessem ser eliminadas suspeitas de eventual contaminação no processo da pesquisa.
De acordo com os pesquisadores brasileiros, a conclusão de Amato sobre a contaminação pulmonar por plástico mostrou a ocorrência da inalação em ambiente caseiro. O microplástico é aquele plástico que fica se microfragmentando no meio ambiente, seja ar, água ou solo, explicou a cientista Thais Mauad, que coordenou a pesquisa. Ele está em todo lugar e vai sofrendo uma série de transformações, dependendo de condicionantes como o tempo e temperaturas, afirma. “O plástico pode causar irritações nos tecidos e reações inflamatórias.”
A médica alertou, no entanto, que ainda é cedo para concluir sobre eventuais ligações da presença do plástico nos pulmões com a ocorrência de doenças como o câncer, por exemplo. “Há ainda uma dificuldade de se entender exatamente se ele tem efeitos danosos na saúde e também quais os tipos e outros efeitos no organismo”, disse a professora. “Não há somente um microplástico, mas sim diversos tipos. E, também, depende da forma pela qual ele entra no organismo.”
De acordo com a especialista da USP, a ciência já sabe, porém, por estudos em animais, que o microplástico provoca efeitos na saúde dos bichos, como os animais marinhos. “Mas por que ele faria mal para a saúde? Primeiro, porque quando ele se quebra vai expor uma série de substâncias que estão dentro, como os retardantes de chama, os fenóis, que são substâncias potencialmente tóxicas. Ele pode também ser recoberto de bactérias ou outros organismos. E a própria partícula de plástico, que, pelo tamanho, seu organismo não consegue eliminar, pode ser um fator de irritação inflamatória”, afirmou. “Em pequenos animais não há mais dúvidas a respeito disso. Tanto ele pode bloquear o intestino daquele animal quanto há estudos que mostram que as partículas chegam ao fígado, aos rins e induzem a respostas inflamatórias.”
Amato contou que há estudos em França, Nova Zelândia, China e Inglaterra, mostrando que há partículas de microplástico em suspensão no ar tanto na rua quanto dentro de casa. “Esses filtros, depois, são também analisados para checagem de quais tipos de plásticos acumularam e também a contagem para verificarmos se houve contaminação ou não.” De acordo com Thais Mauad, o resultado mostrou também o equívoco do conceito de que o plástico é inerte no organismo e, por si, não causa prejuízos à saúde. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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