EUA dão apoio público a Israel, mas pressionam Netanyahu a aceitar cessar-fogo
Segundo autoridades americanas, o presidente dos EUA, Joe Biden, vem pressionando o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, a aceitar um cessar-fogo – embora publicamente a Casa Branca mantenha o apoio irrestrito a Israel. Duas pessoas que presenciaram o telefonema entre Biden e Netanyahu, na segunda-feira, 17, disseram ontem ao New York Times que o presidente deixou claro que não poderia segurar muito tempo a pressão internacional contra os bombardeios israelenses.
A tática – de pressão nos bastidores combinada com apoio público a Israel – vem sendo criticada por congressistas democratas e por grupos de judeus progressistas americanos. Ontem, porém, a estratégia foi defendida pela porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, como sendo resultado da experiência de Biden em política externa. “Ele está fazendo isso há tempo suficiente para saber que a melhor maneira de encerrar um conflito internacional é não debatê-lo em público”, disse.
A pressão aumentou também na Europa. Reunidos por videoconferência, os chanceleres do bloco pediram um cessar-fogo imediato. Em declaração conjunta, os europeus apoiaram o direito de defesa de Israel, mas alertaram que ele deve ser “feito de maneira proporcional e respeitando o direito internacional humanitário” – apenas a Hungria não assinou a mensagem, por considerá-la favorável aos palestinos.
Apesar da pressão, Netanyahu disse ontem que os ataques em Gaza “levarão o tempo necessário para restaurar a calma aos cidadãos de Israel”. Curiosamente, segundo analistas, tanto o premiê israelense quanto o Hamas têm sido os maiores vencedores do conflito.
Dois opositores do primeiro-ministro, Naftali Bennett e Gideon Sa’ar, que negociavam a formação de um novo governo de coalizão com Yair Lapid, um desafeto de Netanyahu, já cogitam a possibilidade de uma aliança com o premiê.
Segundo fontes militares israelenses, o Hamas também vem cumprindo seus principais objetivos: posicionar-se como defensor da Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, fortalecer sua presença na Cisjordânia e reforçar sua posição para suceder ao presidente palestino, Mahmoud Abbas, no futuro.
Greve
Ontem, os palestinos em Israel e nos territórios ocupados entraram em greve em um raro protesto coletivo. Apesar de o movimento ter sido pacífico em muitos lugares, com as lojas fechadas nas movimentadas ruas da Cidade Velha de Jerusalém, a violência explodiu na Cisjordânia.
Em Ramallah, centenas de palestinos queimaram pneus e atiraram pedras contra um posto de controle militar israelense. As tropas dispararam gás lacrimogêneo. Três manifestantes foram mortos e mais de 140 ficaram feridos. Israel disse que dois de seus soldados foram feridos por tiros nas pernas.
A greve foi uma demonstração incomum de unidade dos palestinos israelenses, que representam 20% de sua população, e os que vivem em Gaza e na Cisjordânia. As ruas ficaram desertas em áreas árabes de Israel e nos territórios ocupados, enquanto comerciantes fecharam as portas das lojas ao longo da orla em Jaffa, em Umm el-Fahm, no norte do país, e nas cidades de Hebron, Jenin, Nablus e Ramallah.
Muitos canteiros de obras ficaram vazios. Estudantes não foram à escola. Alguns restaurantes em Jerusalém Ocidental fecharam ou serviram cardápios limitados, já que os palestinos não foram trabalhar. “Todo mundo está participando da greve, porque as pessoas sentiram que a ameaça está muito perto”, disse Raja Zaatary, porta-voz de um comitê árabe que organizou a paralisação.
Em pouco mais de uma semana de confrontos, mais de 270 palestinos foram mortos em ataques aéreos, incluindo 63 crianças, e mais de 1.500 ficaram feridos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, que não separa os números em combatentes e civis.
O Hamas e a Jihad Islâmica reconhecem que pelo menos 20 de seus combatentes foram mortos, enquanto Israel garante que o número é de pelo menos 130. Doze pessoas em Israel, incluindo um menino de 5 anos, foram mortas em ataques com foguetes disparados da Faixa de Gaza.
Ontem, os disparos continuaram. Foguetes voaram sobre Ashkelon, Ashdod e outras comunidades no sul de Israel. Um deles atingiu uma fábrica de embalagens na fronteira com o território palestino, matando dois trabalhadores tailandeses. O serviço de resgate disse que levou outras sete pessoas para o hospital.
Crise humanitária
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), suprimentos médicos, combustível e água estão acabando rapidamente para os 2 milhões de palestinos da Faixa de Gaza. Quase 47 mil pessoas estão desabrigadas. Os ataques israelenses danificaram pelo menos 18 hospitais e clínicas e destruíram um centro de saúde. Quase metade de todos os medicamentos essenciais no território acabou.
A OMS disse que o bombardeio de estradas importantes, incluindo as que levam ao Hospital Shifa, o principal de Gaza, vem impedindo a passagem de ambulâncias e veículos de abastecimento no território, que já estava lutando para lidar com um surto de coronavírus. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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