Explosão próxima a mesquita deixa ao menos dois mortos e feridos em Cabul

Pelo menos dois civis foram mortos e outros três feridos numa explosão em Cabul, no Afeganistão, neste domingo, 3, perto da mesquita de Id Gah, onde se celebrava uma cerimônia em memória à mãe de um líder do Taleban.

Até agora, nenhum grupo ou organização armada reivindicou a responsabilidade pelo ataque. A mesquita Eid Gah, localizada na capital do Afeganistão, fica a poucos metros do palácio presidencial e da sede do Ministério da Defesa.

“Segundo as nossas informações, dois civis foram mortos e três feridos na explosão”, disse à AFP o porta-voz do Ministério do Interior, Qari Sayed Khosti.

Alguns minutos antes, o porta-voz do governo, Zabihullah Mujahid, tuitou: “Uma explosão teve como alvo durante a tarde uma reunião de civis perto da entrada da mesquita Id Gah em Cabul e matou várias pessoas.”

Ahmadullah, um comerciante cuja loja está perto da mesquita, disse à AFP que “ouviu o som de uma explosão seguida de tiros”.

Após o ataque, a área em torno da mesquita foi isolada pelos taleban, com forte esquema de segurança.

Os taleban tinham anunciado numa declaração no dia anterior que a cerimônia seria realizada na mesquita no domingo à tarde.

O último ataque mortal em Cabul ocorreu em 26 de agosto, quando pelo menos 72 pessoas morreram e mais de 150 ficaram feridas numa explosão ao aeroporto de Cabul reivindicado pelo grupo jihadista Estado Islâmico (IS).

Sob o nome Estado Islâmico da Província de Khorasan, IS-K reivindicou a responsabilidade por alguns dos ataques mais sangrentos dos últimos anos no Afeganistão.

Reunião taleban

No início da manhã, os taleban organizaram uma primeira reunião de quase 1.500 apoiadores para celebrar sua vitória, sete semanas depois de assumirem o controle do país, em 15 de agosto.

O comício ocorreu em Kohdaman, perto de Cabul.

No palco, Mawlawi Muslim Haqqani, vice-ministro dos assuntos religiosos, elogiou a vitória do movimento islâmico, que disse ter marcado a derrota dos “cristãos” e dos “ocidentais”.

Apenas homens e rapazes participaram do evento, em cadeiras ou sentados no chão debaixo de lonas erguidas no meio de um terreno baldio.

Ao redor, dezenas de guardas armados ficaram de prontidão enquanto os combatentes taleban chegavam.

“A América derrotada. Impossível. Impossível. Mas é possível”, disse uma das canções tocadas, apesar de a música ser teoricamente proibida pelo movimento islâmico.

O evento começou solenemente com uma procissão de homens armados que agitavam a bandeira branca taleban com a profissão de fé muçulmana inscrita em preto. Alguns carregavam um lançador de foguetes sobre os ombros.

Os civis participantes na reunião usavam vestuário tradicional ou pelo menos chapelaria. A maioria estava desarmada. Quando os organizadores chegaram, cantaram o tradicional “takbir”, a fórmula religiosa “Allah Akbar” (Deus é o maior) repetida várias vezes. Alguns gritaram slogans pró-Taleban.

Outro orador, que disse chamar-se Rahmatullah, afirmou que após 20 anos de guerra no país, a vitória foi possível graças “às fileiras de jovens que se apresentaram como candidatos ao martírio”.

‘Os seus termos’

“As Nações Unidas são simplesmente o outro nome dos Estados Unidos e o seu objetivo é destruir países muçulmanos, se aceitarmos os seus termos, não faremos melhor do que o governo anterior”, disse Mohamad Akram, chefe de um grupo de comando taleban.

Sete semanas após a tomada do poder pelos combatentes, o “Emirado Islâmico”, o novo regime decretado pelo Taleban, tenta afirmar a sua legitimidade tanto aos olhos da população como a nível internacional.

Milhares de afegãos e parte da oposição fugiram do país por medo de represálias por parte do movimento fundamentalista.

No interior do país, a oposição civil tornou-se impossível. Desde 8 de setembro, os taleban reprimiram todas as manifestações e tomaram “medidas legais severas” contra qualquer pessoa que infringisse as suas regras.

Em setembro, taleban armados dispersaram manifestações em várias cidades, incluindo Cabul, Faizabad e Herat, onde duas pessoas foram mortas.

Na capital, milícias armadas dispersaram à força as poucas manifestações que reuniam um punhado de mulheres para exigir o direito à educação.

No início de agosto, os taleban formaram um governo chefiado por Mohamad Hasan Akhund, antigo associado próximo do fundador do movimento, Mullah Omar, que morreu em 2013. Todos os membros pertencem ao grupo fundamentalista e quase todos são pashtuns étnicos.

O governo enfrenta o desafio da gestão civil num país economicamente empobrecido e ameaçado por uma grave crise humanitária.

Nenhum país reconheceu ainda o novo regime do Afeganistão, embora Paquistão, China e Catar tenham dado sinais de abertura.

A Secretária de Estado Adjunta dos EUA Wendy Sherman viajará para o Paquistão na quinta e sexta-feira para discutir, entre outras coisas, como o novo regime taleban pode ser pressionado a respeitar os direitos fundamentais. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

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