Fed acelera retirada de estímulos nos EUA e prevê 3 altas de juros em 2022

O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) anunciou nesta quarta-feira, 15, que vai acelerar o ritmo de retirada dos estímulos à economia dos Estados Unidos em meio ao aumento da inflação no país, e agora espera aumentar as taxas de juros três vezes no ano que vem.

Em uma mudança abrupta de política monetária, o banco central norte-americano anunciou que reduzirá suas compras mensais de títulos em US$ 30 bilhões ao mês, duas vezes mais rápido que o anunciado anteriormente no fim de outubro. Assim, o programa de estímulo, adotado como resposta à pandemia no ano passado, pode se encerrar totalmente em março.

Do total de US$ 30 bilhões que serão reduzidos, US$ 20 bilhões se referem aos títulos de do tesouro americano e US$ 10 bilhões, a títulos lastreados em hipotecas (títulos imobiliários).

As compras de títulos tinham o objetivo de manter baixas as taxas de juros de longo prazo para ajudar a economia, mas não são mais necessárias. Nos últimos meses, a taxa de desemprego vem caindo e a inflação nos EUA atingiu o maior nível em quase 40 anos.

O cronograma acelerado coloca o Fed no caminho para aumentar as taxas de juros no primeiro semestre do ano que vem. A nova previsão do Fed de que aumentará sua taxa básica de juros três vezes no ano que vem contrasta com as previsões anteriores. Em setembro, por exemplo, a autoridade monetária previa apenas um aumento na taxa de juros em 2022.

A taxa básica do Fed, atualmente próxima de zero, influencia muitos empréstimos ao consumidor e empresas, cujas taxas também tendem a subir.

A mudança de política monetária ocorre duas semanas depois de o presidente do Fed, Jerome Powell, reconhecer o aumento das pressões inflacionárias em depoimento ao Congresso americano. Ele afirmou que o Fed precisava começar a restringir o crédito para consumidores e empresas mais rapidamente do que ele projetava apenas algumas semanas antes.

Nos últimos meses, o Fed vinha caracterizando o pico da inflação como um problema “transitório” que desapareceria à medida que os gargalos de oferta causados pela pandemia fossem resolvidos.

Mas a alta nos preços persistiu por mais tempo do que o esperado e se espalhou para produtos como alimentos, energia e automóveis, aluguéis, refeições em restaurantes e acomodação.

A inflação pesou muito sobre os consumidores, especialmente as famílias de baixa renda e, em particular, para as necessidades diárias, e anulou os aumentos salariais que muitos trabalhadores receberam.

Em resposta, o Fed está deixando de focar na redução do desemprego, que caiu rapidamente para 4,2%, para focar no controle dos preços mais altos. Os preços ao consumidor subiram 6,8% em novembro em comparação com o ano anterior, segundo dados do governo divulgados na semana passada, o ritmo mais rápido em quase quatro décadas.

Riscos

A nova mudança de política do Fed traz riscos. Aumentar os custos dos empréstimos muito rapidamente pode sufocar os gastos dos consumidores e das empresas. Isso, por sua vez, enfraqueceria a economia e tende a aumentar o desemprego. No entanto, se o Fed esperar muito para aumentar as taxas, a inflação pode ficar fora de controle. Pode então ter que agir de forma mais agressiva para restringir o crédito e potencialmente desencadear outra recessão.

Autoridades do Fed disseram esperar que a inflação esfrie no segundo semestre do ano que vem. Os preços do gás já atingiram seus picos. Os gargalos da cadeia de suprimentos em algumas áreas estão diminuindo gradualmente. E o auxílio emergencial do governo americano, que ajudou a impulsionar um aumento nos gastos, provavelmente não retornarão.

Mesmo assim, muitos economistas esperam que os preços altos persistam. Essa probabilidade foi reforçada esta semana pelo indicador de inflação no atacado, que subiu 9,6% nos 12 meses encerrados em novembro, o ritmo mais rápido desde o início da série histórica, em 2010.

Custos de habitação, incluindo aluguel de apartamentos e o custo da casa própria, que representam cerca de um terço do índice de preços ao consumidor, têm subido a um ritmo anual de 5% nos últimos meses, calcularam economistas do Goldman Sachs.

Os preços dos restaurantes aumentaram 5,8% em novembro em relação ao ano anterior, uma alta de quase quatro décadas, refletindo em parte os custos salariais mais elevados. Esses aumentos provavelmente manterão a inflação bem acima da meta anual de 2% do Fed no próximo ano.

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