Ferrovia que vai transformar o Paraná será verde e sustentável
A vocação da Nova Ferroeste vai além de unir por trilhos Paraná e Mato Grosso do Sul, dois dos principais polos exportadores do agronegócio brasileiro, e se transformar no segundo maior corredor de transporte de grãos e contêineres do País, perdendo em capacidade apenas para a malha paulista. A ferrovia quer nascer verde e sustentável.
Todo o projeto foi desenvolvido para ter o mínimo possível de impacto socioambiental. O desenho preliminar do traçado de 1.285 quilômetros entre Maracaju (MS) e o Porto de Paranaguá, por exemplo, não prevê nenhuma interceptação em comunidades indígenas, quilombolas ou em Unidades de Proteção Integral.
Os técnicos responsáveis pela proposta alinharam o traçado a um distanciamento mínimo de cinco quilômetros dessas coletividades ou pontos de conservação. Já no final do percurso, toda a estrutura da nova ferrovia que vai cortar a Serra do Mar foi alinhada com o Plano Sustentável do Litoral, concebido em 2019.
“A sustentabilidade tem um peso muito importante em todo o projeto. Buscamos mitigar o máximo possível questões ambientais para que a Nova Ferroeste seja de fato uma ferrovia verde, que se preocupa com o desenvolvimento sustentável do País”, disse o coordenador do Grupo de Trabalho Ferroviário do Estado do Paraná, Luiz Henrique Fagundes.
Outra preocupação, destacou o coordenador, é com a redução dos conflitos urbanos. A orientação é para que os trechos da ferrovia evitem cruzar as cidades. Em Curitiba, por exemplo, os trilhos serão todos desviados, sem a passagem de trens por cruzamentos que podem gerar acidentes. “É, sem dúvida, uma iniciativa que vai deixar a capital paranaense muito mais segura, seja para motoristas ou pedestres”, afirmou Fagundes.
NAS ESTRADAS – A instalação do modal terá impacto também na melhoria da qualidade do ar. A conta simples prevê que um trem com 100 vagões substitui 357 caminhões, ambos com capacidade aproximada de 100 toneladas de carregamento. “É uma redução significativa na emissão de gases do efeito estufa. Não existe dúvida de que o trem é melhor ambientalmente do que um motor a combustão”, ressaltou o coordenador.
Ele lembra também que com menos caminhões trafegando, as estradas tendem a ser mais seguras de uma maneira geral. “É um pedido dos próprios caminhoneiros para que o trabalho deles fique concentrado em trechos menores, com distâncias mais curtas e possibilidade de fazer uma quantidade maior de fretes”, disse Fagundes.
AUTORIZAÇÃO – Outro ponto importante é que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu no início deste ano a Autorização de Captura, Coleta e Transporte de Material Biológico (Abio) para o projeto da Nova Ferroeste. É mais uma etapa no processo de licenciamento ambiental da proposta, que foi qualificada no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), do governo federal.
A Abio permitiu o início dos trabalhos de campo para o diagnóstico ambiental da fauna na área do projeto da Nova Ferroeste. Essa etapa é balizada por um plano de trabalho, analisado e aprovado pelo Ibama, no qual são indicados os pontos de amostragem e a metodologia a ser aplicada. Os dados a serem coletados em campo são essenciais para a avaliação de impactos ambientais da ferrovia, que será debatida com a sociedade após a conclusão dos estudos.
ESTUDOS – A Ferroeste foi qualificada em meados de 2020 no âmbito do PPI, o que acelera o seu processo de desestatização. O pedido foi feito pelo Governo do Paraná e significa que a União vai ajudar o Estado com apoio técnico regulatório necessário em diversas áreas, da modelagem e meio ambiente à atração de investidores.
O Governo do Paraná firmou um acordo de cooperação técnica com o Mato Grosso do Sul em 2020 para acelerar projeto. A empresa TPF Engenharia, contratada pelo Governo do Estado, está realizando os Estudos de Viabilidade Técnico-Operacional, Econômico-Financeira, Ambiental e Jurídica (EVTEA).
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) são coordenados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo (USP).
FERROVIA – O projeto busca implementar o segundo maior corredor de transporte de grãos e contêineres do País. A área de influência indireta abrange 925 municípios de três países. São 773 do Brasil, 114 do Paraguai e 38 da Argentina. No Brasil, impacta diretamente 425 cidades do Paraná, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, totalizando cerca de 9 milhões de pessoas. A área representa 3% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
A expectativa, de acordo com os técnicos, é que pela Nova Ferroeste seja possível o transporte de 54 milhões de toneladas por ano – ou aproximadamente 2/3 da produção da região. 74% seriam de cargas destinadas para a exportação.
A previsão é que os estudos de viabilidade sejam finalizados em setembro e os estudos de impacto ambiental em novembro. A intenção é colocar a ferrovia em leilão na Bolsa de Valores do Brasil (B3), com sede em São Paulo, logo na sequência. O consórcio que vencer a concorrência será também responsável pelas obras.
ESPECIAL – O projeto da Nova Ferroeste está sendo esmiuçado ao longo desta semana em cinco reportagens especiais. A primeira, sobre o traçado, foi publicada na segunda-feira (05). Na terça-feira (06), foi reforçado o impacto econômico do modal. Por fim, as matérias trarão a expectativa do setor produtivo pela ferrovia e como o Porto de Paranaguá está se preparando para receber a nova demanda de grãos e contêineres, entre outros produtos. A intenção é explicar a importância da implementação deste novo corredor de exportação que vai unir duas potências do agronegócio mundial.
Da AEN
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