Fisioterapia respiratória: a importância do acompanhamento pós-Covid
Respirar: um processo natural, automático e precursor da vida. Desde o início da pandemia a saúde dos pulmões está em destaque. Para ter uma respiração com qualidade é preciso de esse órgão esteja saudável, ‘limpo’, sem marcas. Uma condição que infelizmente nem todos que vencem a Covid-19 conseguem manter após o período de superação.
A doença está ainda cercada de mistérios. A ciência luta contra o tempo na busca por tratamentos efetivos para a cura e vacinas que visam garantir maior proteção do organismo. Essa complexa enfermidade respiratória pode deixar sequelas na atividade mais básica para a vida: a respiração. Entre as lesões que a Covid-19 pode deixar está a dificuldade de respirar. No processo de luta para vencer a doença e na recuperação, a fisioterapia respiratória desempenha um importante papel.
A fisioterapia respiratória envolve um conjunto de técnicas que atuam como preventivas ou curativas, com o objetivo de melhorar oxigenação do sangue, reeducar a função respiratória, mobilizar secreções, reduzir a função do trabalho respiratório, promover reexpansão pulmonar, atuar na prevenção de complicações, entre outros benefícios.
“O papel da fisioterapia é muito importante, pois o paciente que teve complicações mais graves pela Covid-19 fica com algumas sequelas e a fisioterapia atua no processo de acelerar o processo de recuperação do paciente, pois muitos dos pacientes ficam com sequelas pulmonares, físicas e mentais que não desaparecem sozinhas”, cita a fisioterapeuta, Caroline Marodin Lima. “São muitos os tipos de atendimentos que o fisioterapeuta trabalha no pós-Covid-19, sempre pensando em trazer melhores condições ao paciente até a sua recuperação completa. Quando se trata de um acometimento temporário, trabalharemos com diversos tipos de exercícios para reativar aquela função que estava ‘perdida’”.
A IMPORTÂNCIA DO ATENDIMENTO – A profissional destaca que os atendimentos na área de fisioterapia são essenciais neste período de pandemia, pois visam prevenir, preservar e tratar a saúde do paciente. Ela cita que em muitos casos onde ocorre comprometimento na função pulmonar do paciente, o papel do fisioterapeuta é muito importante, pois muitas pessoas precisam de uma oferta suplementar de oxigênio para manter a saturação, a fisioterapia pode colaborar muito nesse processo, melhorar a expansão pulmonar, consequentemente ajudar na melhora das trocas gasosas do sistema respiratório, além disso, pode melhorar a respiração, força dos músculos respiratórios, entre outras consequências positivas. “A falta da fisioterapia em casos de maior comprometimento de pacientes pode acarretar em perda de algumas funções musculo esqueléticas, pulmonares, neurológicas”, alerta.
OS DESAFIOS PARA RESPIRAR – A pandemia desencadeou diversos obstáculos que no atendimento na área de fisioterapia. “Essa doença tem produzido inúmeros desafios para a área da fisioterapia. A grande quantidade de pacientes que estão sendo hospitalizados pela doença trouxe uma sobrecarga muito grande para os serviços de saúde. O papel da fisioterapia está sendo de grande valia para o tratamento dos pacientes com Covid-19, pois o manejo dessas pessoas demanda muitas intervenções do fisioterapeuta. O fisioterapeuta é responsável por prevenir e tratar alterações no sistema respiratório onde a doença compromete na maioria dos casos, também no sistema músculo esquelético, pois pacientes pós internação por Covid-19 têm perda de musculatura, em grandes casos perda de alguns movimentos por ficarem por períodos prolongados de internação e, muitas vezes, por ficarem delongado tempo sedados sem se movimentarem. A fisioterapia também atua em pacientes que por sequelas da doença tiveram comprometimento neurológico”, explica.
Caroline declara que ainda não é possível apontar as justificativas para tantos comprometimentos que a Covid-19 está causando. Ela acrescenta que no início da pandemia estavam sendo acometidas pessoas com maior idade e com comorbidades, contudo, no decorrer dos dias os profissionais tem acompanhado pessoas saudáveis e mais jovens sendo acometidas dessa doença e suas complicações.
“A fisioterapia, a cada dia, está sendo mais valorizada na pandemia, pois o papel do fisioterapeuta é de extrema importância e o esse profissional tem atuação no combate dessa doença. Desse modo, a fisioterapia possui um papel fundamental tanto no início do tratamento quanto na recuperação do paciente que contraiu a Covid-19”, conclui a profissional.
Respirar: acompanhamento da fisioterapia ajuda paciente a recuperar função que estava ‘perdida’
Foram 17 dias entubado. As complicações da Covid-19 deixaram marcas na vida do diretor administrativo, Anderson Quinhone Lima. A doença atingiu a família em fevereiro deste ano. Após quase cinco meses dessa ‘tormenta’, ele continua com a fisioterapia e em processo de recuperação; cada dia apresenta mais retorno positivo.
“O processo de recuperação é lento, mas com força de vontade e com a ajuda da família e dos profissionais, hoje, estou muito bem. Ainda sinto muito cansaço físico e mental, mas o restante já consegui recuperar praticamente tudo”, declara Lima. “O trabalho da fisioterapia foi essencial na minha recuperação. Comecei a fazer fisioterapia em casa logo que ganhei alta e a cada dia tem uma progressão”, cita ao pontuar que está 90% recuperado.
Lima passou a ter os primeiros sintomas no final de janeiro. Com o agravamento do quadro – ele tinha muita tosse e esforço respiratório – procurou atendimento clínico e fez uma tomografia, a recomendação médica foi o internamento para estar melhor assistido.
“No dia 6 de fevereiro, fui internado no Hospital HGU e comecei a usar a máscara de oxigênio, pois minha saturação estava baixa, dois dias depois fui transferido para UTI do Hospital Campagnolo e assim fui piorando a cada dia mesmo tomando doses altas de medicação, estava muito ansioso, pois tinha muita falta de ar. No dia 11 de fevereiro, o médico conversou comigo que minha situação era grave, pois meu pulmão estava bem comprometido e eu teria que ser entubado. Fiquei entubado por 17 dias, tive várias complicações, entre pneumonia, plaquetas baixas e disfunção renal”, recorda.
Lima relata que fez hemodiálise durante 48 horas e os rins começaram a reagir. Após isso os pulmões também apresentaram sinais de melhora. Diante do quadro, foi iniciado o processo de extubação. Ele explica que essa ação foi complicada, pois ficava muito agitado com a pressão e meus batimentos cardíacos elevados. Fizeram a traqueostomia e após o procedimento, Lima foi despertando aos poucos até acordar.
VOLTAR A RESPIRAR – “Quando fui para o quarto fiquei totalmente dependente para realizar todas as atividades: não caminhava, não tinha força nos braços e nas pernas, não conseguia nem me manter sentado, somente com ajuda. Usava sonda nasogástrica para receber dieta e ainda fiquei uma semana tomando muitos medicamentos intravenosos. Fiquei muito abalado, tive muitas alucinações devido aos sedativos e muitos ‘pesadelos’. A Covid-19 abala muito a parte emocional, tive muitos momentos de medo por não saber o que iria acontecer comigo e também pelas limitações que tive, sempre fui muito ativo e depois não conseguia fazer praticamente nada”, relata.
Lima é casado com a fisioterapeuta, Caroline Marodin Lima. Ela destaca que através da profissão conseguiu ajudar o esposo em todo o processo de recuperação, estimulando ele a sempre seguir em frente, sem desanimar. “Meu marido já está bem recuperado. Com uma semana em casa ele começou a caminhar e assim foi só melhorando, conseguiu ir recuperando os movimentos gradativamente”, conta ao salientar que presta o suporte necessário.
LUTA CONTRA A DOENÇA – A doença atingiu todos os moradores da casa. Além de Lima, Caroline e dos dois filhos também contraíram a Covid-19. Contudo, ela e a filha tiveram sintomas leves, já o marido e o filho apresentaram um quadro de saúde mais delicado. “Foi um período muito difícil. Foi tudo muito conturbado. Também tínhamos muita preocupação em relação ao Felipe, meu filho mais novo de 4 anos, pois ele é especial. Felipe ficou 14 dias internado na UTI em Pato Branco. Não pude acompanhar meu filho, pois eu também estava contaminada e pelo protocolo ele não poderia ter acompanhante. Meu esposo e meu filho estavam internados. Graças a Deus, minha família e meus amigos me mantive firme, vivendo a cada dia com aflições, mas nunca perdi a fé. Acredito, que com tudo isso que passamos ficamos mais fortes do que somos, tomando ainda mais cuidado e precaução”, alerta a fisioterapeuta ao salientar que o acompanhamento é fundamental no processo de recuperação da doença.
Da Redação
TOLEDO
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