Ginseng do Paraná é disputado por compradores internacionais
Se olhar apenas pelo nome, o ginseng parece se referir a algo que vem de outros países para o Brasil. Em parte, isso é verdade, já que existem mais de 30 espécies dessa planta somente na América do Sul e tantas outras pelo mundo. No entanto, o fato é que uma é originária do Paraná, mais especificamente da região Noroeste, em Querência do Norte. O produto paranaense tem ganhado fama internacional e despertado interesse de europeus e asiáticos. E como um parceiro para a expansão comercial, o sindicato rural local e o Sistema Faep/Senar-PR têm sido pilares de sustentação no processo.
“Nos últimos anos, formou-se no município um grupo dos agricultores familiares, sendo que boa parte já fez vários cursos do Senar-PR em áreas como administração de propriedades, Kaizen e outros relacionados. Eles são bastante ativos e estão conseguindo expandir o cultivo e conquistar novos clientes pelo mundo”, compartilha o gestor do Sindicato Rural de Querência do Norte, Sidneis José dos Santos.
Para organizar a produção e comercialização do município, os cultivadores do ginseng paranaense (Pfaffia glomerata) formaram a Associação Pequenos Agricultores de Ginseng Brasileiro (Aspag) de Querência do Norte. Assim, eles reúnem a produção resultante dos 27 associados responsáveis pelos 20 hectares dedicados a planta com propriedades terapêuticas. Nessa área, em 2019/20, eles colheram 300 toneladas do produto. O preço pago aos produtores fica entre R$ 2 a R$ 3 o quilo, dependendo da modalidade de cultivo (orgânica certificada ou sem certificação) e se o produtor é sócio ou não da Aspag.
“Passou a ser uma fonte de renda importante, economicamente viável, com um bom rendimento. Além disso, não usa adubo químico, defensivos agrícolas, é um produto direcionado ao pequeno produtor. Se pegar a rentabilidade de propriedades nesse perfil, nenhum outro cultivo garante uma margem de lucro equivalente”, garante Misael Jefferson Nobre, presidente da Aspag.
Afinal, o que é ginseng?
O ginseng se refere a um grupo de plantas com propriedades medicinais (imunoestimulante, analgésico, ansiolítico, revitalizante, antirrugas, hidratante, anti-inflamatório, antioxidante, antialérgico, antidiabético, antidiarreico, protetor gástrico e cicatrizante, entre outras características), amplamente consumidas em chás, para enriquecer receitas ou mesmo em cápsulas. Existem os chamados verdadeiros (Panax ginseng e Panax joponicus, originários da Ásia) e uma infinidade de outros espalhados pelo mundo, como o paranaense, mas de outras espécies e com outros princípios ativos.
No caso do paranaense, a planta foi descoberta nos anos 1980, nas várzeas do Rio Paraná e nas ilhas na região de Querência do Norte. Pesquisadores da Emater e de universidades comprovaram a presença de princípios ativos que levaram o produto a ser chamado de ginseng paranaense.
A partir da descoberta, o ginseng de Querência do Norte passou a ser extraído e se tornou uma fonte de renda. No início, o produto era obtido apenas de modo extrativista, ou seja, retirado da natureza. Com o passar dos anos e a preocupação com a preservação ambiental e da própria espécie, a planta começou a ser cultivada. Até que em 2005, com o ganho de importância da planta, formou-se a associação, organizando a pequena cadeia produtiva municipal. Isso fez com que a qualidade do produto medicinal ganhasse maior eco e chegasse ao conhecimento de compradores internacionais.
Hoje, quase todo o ginseng querenciano é mandado para fora do país. Japão, França e China disputam a produção do município. Os produtores locais já tiveram que recusar ofertas de outros países por não terem disponibilidade de estoque. Tanto que empresários chineses interessados em aumentar o volume de compra já adquiriram um terreno para instalar uma fábrica de processamento de ginseng em Querência do Norte. A ideia é incentivar a ampliação da área destinada à planta pelos produtores locais. O potencial, segundo Nobre, é expandir a área dos atuais 20 hectares para mais de 2 mil hectares nos próximos anos.
CURITIBA
Comentários estão fechados.