Governador da Flórida surge como herdeiro de Trump
“Está tudo indo de acordo com o planejado. Na verdade, mais do que qualquer outro republicano, DeSantis pode ter decifrado o código de como se posicionar para liderar o Partido Republicano em uma nova era que é simultaneamente pós-Donald Trump e definida pelo trumpismo”, escreveu Paul Waldman, colunista do Washington Post.
Quando os casos de covid explodiram na Flórida, nas últimas semanas, com maior hospitalização de crianças, DeSantis assinou um decreto para impedir as escolas de obrigar alunos e funcionários a usarem máscaras. Ele mantém a mesma política do ano passado, quando foi um dos primeiros governadores a reabrir o comércio em meio à pandemia, atendendo aos apelos de Trump.
Diminuir a gravidade do coronavírus se tornou uma das principais plataformas políticas do republicano, que não muda de direção mesmo com a alta nos casos. Em defesa da liberdade, diz o republicano, ele se contrapõe à Casa Branca de Joe Biden e ao epidemiologista Anthony Fauci. O discurso soa como música junto à base trumpista. A maioria na Flórida (62%) é favorável à obrigatoriedade de máscaras nas escolas. Mas, entre os republicanos, que é o eleitorado que DeSantis mira, só a minoria apoia a medida.
Ronald Dion DeSantis nasceu em Jacksonville, norte da Flórida. Foi aluno de duas faculdades de elite nos Estados Unidos: Yale, onde estudou história e foi capitão do time de beisebol, e Harvard, onde se formou em Direito.
Serviu na Marinha e trabalhou no JAG – braço militar para lidar com questões legais em cada uma das forças armadas – o que o levou à base naval de Guantánamo, em Cuba. Sua função era assegurar tratamento digno aos detentos na prisão, que é internacionalmente reconhecida por práticas de tortura e violação de direitos humanos. Em 2007, após Guantánamo, foi para o Iraque. Suas missões como militar são amplamente exploradas nas campanhas políticas.
De volta aos EUA, DeSantis foi procurador federal até decidir concorrer a deputado pela primeira vez, em 2012. Em 2018, contou com o apoio de Trump para se lançar ao governo. “Um jovem líder brilhante que daria um ótimo governador”, escreveu Trump no Twitter, com o pontapé inicial para o que se tornaria seu afilhado político na Flórida.
Um dos motes de sua campanha foi indicar juízes conservadores para a Suprema Corte estadual e impedir a criação de cidades-santuário, nas quais autoridades municipais não compartilham com o Serviço de Imigração federal informações sobre os imigrantes em situação irregular, para protegê-los. Na Câmara, como deputado, já era um dos protagonistas da pauta conservadora, com votos antiaborto, contra o controle de armas e também contra o Obamacare.
Além do impulso inicial para a campanha mais importante de sua carreira, DeSantis contou com a plataforma de Trump para convencer os eleitores conservadores. “Ron ama brincar com as crianças”, dizia Casey DeSantis, mulher do republicano e ex-apresentadora de TV, em uma das peças publicitárias de 2018. Na sequência, o candidato a governador surgia empilhando blocos coloridos com um de seus dois filhos, antes de dizer: “Construa o muro”, em defesa da política de Trump para criar uma barreira física de separação com o México.
Nas primárias do Partido Republicano, ele saiu bem na frente do segundo colocado, com quase 57% dos votos dos eleitores do partido. Na eleição ao governo, em 2018, a Flórida fez jus ao apelido de “Estado-chave dos Estados-chave” e deu a vitória ao republicano por uma estreita margem.
DeSantis venceu o democrata Andrew Gillum, que quase se tornou o primeiro negro a governar a Flórida. Durante a campanha, DeSantis se referiu a Gillum de maneira racista e suas ligações com associações e doadores declaradamente racistas foram apontadas.
Trump terá 78 anos em 2024. DeSantis, 46. O governador é apontado como o maior beneficiário do trumpismo. Visto como potencial adversário do ex-presidente em 2024, o governador não rompeu oficialmente com seu padrinho. Trump, por sua vez, tem se voltado contra todos os republicanos que o abandonaram. DeSantis tampouco tem aparecido ao lado do ex-presidente e não compareceu a um comício dele na Flórida, em julho. Trump agradeceu nominalmente a políticos do Estado, mas não citou o governador.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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