Hepatites virais: um alerta silencioso para a saúde pública
Diagnóstico é desafio, mas os tratamentos são promissores
O Julho Amarelo reforça as ações de conscientização sobre a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das hepatites virais. Essa infecção que acomete o fígado pode causar alterações leves, moderadas ou graves, mas, por não apresentar sintomas, pode tornar o quadro do paciente mais delicado. De acordo com dados da Organização Nacional de Saúde (OMS), mais de 1,4 milhão de mortes por ano são causadas por complicações relacionadas a essa doença, em todo o mundo. No Paraná, a Secretaria Estadual de Saúde destaca que a taxa de mortalidade da hepatite C pode ser comparada aos índices do HIV e da tuberculose.
Para o Gastroenterologista e Hepatologista do Hospital São Marcelino Champagnat e do Hospital Universitário Cajuru Jean Tafarel, a dificuldade no diagnóstico é um dos fatores mais preocupantes. Por isso, é aconselhável que médicos solicitem exames de hepatite B e C pelo menos uma vez na vida. “A região Sul registra mais casos de hepatite C, seguindo a incidência desse tipo no Brasil. Atualmente, todas as pessoas identificadas com a doença são tratadas, independentemente do grau. Isso significa que 100% delas se curam tomando um comprimido por três meses, sem efeitos colaterais”, detalha.
Números alarmantes
De acordo com dados do Ministério da Saúde, entre os anos de 2000 e 2022, foram identificados 750.651 casos de hepatites virais no Brasil – todos registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Desses, 298.738 (39,8%) são de hepatite C, 276.646 (36,9%) de hepatite B e 169.094 (22,5%) de hepatite A. Em Curitiba, foram registrados 269 casos em 2022.
Diferentes tipos de hepatites
As hepatites virais se dividem em A, B, C, D e E, com diferentes formas de transmissão. “A hepatite A pode ser transmitida por meio do consumo de água e alimentos contaminados por fezes, condições precárias de saneamento básico e falta de higiene pessoal. A transmissão da hepatite B pode ocorrer em relações sexuais desprotegidas e também no compartilhamento de objetos pessoais como lâminas de barbear, alicates de unha e outros objetos, como agulhas e seringas. Além disso, pode ser transmitida verticalmente, de mãe para filho durante a gravidez, o parto ou a amamentação. O tipo D está associado à presença do vírus da hepatite B e é transmitida pelo sangue e pela relação sexual”, explica o médico.
A hepatite C é a mais severa entre os tipos de vírus, com grande chance de se tornar crônica. É contraída através do sangue contaminado e seus derivados, compartilhamento de seringas e relações sexuais sem o uso de preservativos.
Já a hepatite E é de curta duração e cura naturalmente. Na maioria dos casos, é uma doença benigna transmitida por via fecal-oral, pelo consumo de água contaminada. “Pode ser grave em gestantes, mas raramente causa infecções crônicas em pessoas com algum tipo de imunodeficiência. Assim como a hepatite A, a hepatite E não tem um tratamento específico. A maioria dos casos é registrada em países asiáticos”, alerta Jean.
Sintomas
Não é comum que as hepatites virais apresentem sintomas. Por isso, a testagem é de extrema importância. Os sintomas são: cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, icterícia (pele e olhos amarelados), urina escura e fezes claras.
Tratamento e prevenção
De acordo com o médico, a melhor forma de tratamento ainda é a prevenção. “Existem vacinas disponíveis no sistema público para as hepatites A e B, que estão incluídas no calendário de imunização da criança. A vacina contra a hepatite A é aplicada em apenas uma dose, aos 15 meses de idade do bebê, e a vacina para hepatite B é administrada em quatro doses: ao nascimento e aos 2, 4 e 6 meses de vida. Para outras faixas etárias, três doses garantem a imunidade, mas o uso de preservativos é essencial. Não há vacina para a hepatite C, mas há tratamento e cura, inclusive com medicamentos fornecidos pelo Sistema Único de Saúde”, finaliza o médico.
Da Central Press